Pois é, se você é uma daquelas pessoas que se orgulham de nunca ter cultivado inimigos, saiba que você tem um. E antes que faça conclusões precipitadas, não estou falando do Diabo, muito menos de qualquer pessoa em especial (isto inclui o telefonista de tele marketing).
Este inimigo, ou melhor, inimiga, tomou ocasião de um erro cometido por nossos ancestrais e desde então nos inflama, debocha de nossa incapacidade em vencê-la, não distingue ninguém, pois, para ela, todos nós somos seus inimigos naturais e ela não vai parar, enquanto houver vivos.
Estou falando da morte, nossa maior e mais poderosa inimiga.
Suas visitas não são agendadas, e não se importa com a condição social de quem a irá receber: ricos ou pobres, não importa, certamente estão em sua lista. Não importa se é um astro pop em franco esforço por recuperar sua imagem, e toma toda forma de medicamento para reduzir as dores ou se é um viciado em crack, jogado nas ruas e abandonado por familiares que se sentem impotentes diante da loucura do vício. Se é um atleta idolatrado, numa manhã de domingo tentado recuperar o melhor de sua história, ou um grupo de jovens de baixa renda, que tentam ter um padrão de vida igual ao dos caras do asfalto mas que não podem esperar tanto tempo e preferem partir para tomar o que “precisam”. Independentemente, todos serão visitados por ela.
Você deve conhecer dezenas de histórias de “mortes bonitas”, mas duvido que deseje vivenciar alguma. Certamente conhece histórias de muitas pessoas que doaram suas vidas em prol de uma causa, seja social, política ou espiritual. Mas, se houvesse um meio de alcançar estas vitórias sem o sacrifício da vida, certamente seria a opção mais aceita.
Mas, porque ela incomoda tanto? Não existem centenas de teorias a respeito da pós-morte? Será que nenhuma delas conforta, consola, ou pelo menos, ameniza a dor dos que ficam? A resposta é mais complexa que a pergunta.
Não adianta criar possibilidades, ela certamente chegará. As plásticas, os métodos, a mais avançada ciência, se mostram incapazes, vãs tentativas de retardar a chegada daquela que ninguém deseja, mas, no final, sempre chega.
Pode causar alívio naqueles que vegetam. Pode até causar alegria naqueles que torceram para que ela chegasse ao lar do desafeto. Mas continuará sendo odiada, rejeitada, enfim, inimiga.
O apóstolo Paulo escrevendo aos irmãos da igreja que estava na cidade de Corinto, ensina a respeito da ressurreição dos mortos e no capítulo 15, versículo 26 ele diz: “O último inimigo a ser destruído é a morte”. Ela que entrou no mundo por causa da desobediência dos nossos pais, permanece marcando sua presença geração após geração. E nós, impotentes, nos confortamos como podemos. Alguns apelam para o ateísmo de ocasião: deixam de crer em Deus porque ele não lhe ouviu quando pediu que seu (sua) amado(a) não fosse tragado pela voracidade mortal da inimiga. Outros insistem em não deixar que este ou aquele se vá, e apela para a mediunidade para continuar com seu ente próximo. E há ainda aqueles que crêem que no fim, todos se encontrarão outra vez, e tudo passará.
Mas, todo consolo parece inútil diante da dor e do estrago que a morte causa. Não há palavras. Não há promessas.
Jesus, na casa de Lázaro, seu amigo que havia morrido há quatro dias, apresenta para Maria, a irmã inconsolável, a esperança de uma ressurreição que, no sentido do que ele deseja mostrar, seria imediata, pois ali se encontrava o autor da vida. Mas ela continuou triste, inconformada. Ao encontrar Marta, a outra irmã, o diálogo não foi muito diferente. Diante da possibilidade de uma ressurreição, Marta continua abatida pela dor causada pela morte. O próprio Jesus, diante do túmulo de Lázaro, chora a tragédia humana daqueles criados à imagem de Deus, e que agora, por conta do pecado, se tornaram mortais, vulneráveis e derrotados.
Talvez nossa maior frustração seja a impotência diante de sua crueldade. Não há armas de defesa. Não há estratégias. Não há esconderijos. Somos obrigados a aceitar os fatos, e estes dizem que somos mortais.
A Bíblia, a maior fonte de fé e inspiração espiritual que a humanidade já conheceu, não diz, em momento algum que a morte é boa ou desejável. Antes, enfatiza sua presença no mundo como fonte de dor resultante do erro humano e de sua rebeldia contra o Criador. Não é natural.
Natural seria o homem viver eternamente. Morrer não é natural. Por isso dói tanto, pois em nós está a imagem daquele que nos criou, e como Ele é, deseja que sejamos: Eternos. Mas isso só pode se tornar realidade quando o pecado for extirpado do meio e para isso morreu Jesus, para que outra vez possamos ter direito à eternidade.
Ser eterno foi sonho de muitos ditadores. É sonho de muitas celebridades. Mas, independente das tentativas, certo é que só quem é eterno e tem a eternidade nas mãos a pode dar. Humanamente falando, ninguém chegará a este ponto. Do ponto de vista cristão, já estamos prontos a recebê-la quando estivermos finalmente com Cristo – a nossa esperança. Ele foi o único que venceu a morte e por isso pode nos dar também a mesma vitória.
“Pois estou certo que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor”.