sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Vende-se

Estou impressionado com a força e a forma que o Mercado tem tomado. Tudo, quase que absolutamente, está direta ou indiretamente envolvido nesta idéia. Me assusta a atribuição de valor mercadológico a quase tudo. Tudo pode ser comprado ou vendido. Um certo advogado que ocupou um cargo de grande responsabilidade moral e ética em nosso estado, em reunião com seus colaboradores disse: “Todo homem tem seu preço. Eu tenho o meu, mas aqui ninguém pode pagá-lo”.

Estamos mergulhados até a alma neste oceano mercadológico. Querem ver?

Vende-se felicidade. Pois é, por pouco mais de R$12,00 você pode ser uma pessoa feliz, porque comprou e comeu um BigMac, ou melhor, por R$1,50 você é feliz e transmite felicidade ao mundo inteiro abrindo e bebendo uma Coca-Cola. Felicidade, para o mercado, é consumir.

Aqui está um mal de nosso século. Não somos mais pessoas, somos consumidores. Não temos identidade, temos cartão de crédito. Não pensamos, somos convencidos.

Não importando qual seja o partido e suas “ideologias”, os candidatos não vêem pessoas, vêem votos; não vêem problemas sociais, vêem plataformas eleitorais; não vêem necessidades urbanas, vêem oportunidades de autopromoção. Há décadas o modus operandi deles é o mesmo: visitar as favelas e os guetos em tempos de eleição e depois sumirem. Por que? Porque as pessoas são consumidoras, seja de idéias, seja de promessas, ou sonhos, nós somos alimentados a depender e consumir. A política é feita para manter as grandes empresas grandes, os consumidores consumindo, e a engrenagem girando.

Observe as propagandas de carros. Alguém já viu nestas chamadas um conselho aos telespectadores do tipo:

“Cuidado! Só compre se você realmente tiver condições de pagar. Isso não é uma necessidade, é apenas um luxo dispensável”

Você nunca verá. Por quê? Porque o mercado não se importa se você está com as contas atrasadas, se precisa reformar a casa porque o telhado está quase caindo, ou se gasta metade do orçamento com medicamentos, ele apenas diz:

- Compre a super tela de última geração porque a sua é antiquada e não serve mais.

- Compre o carro novo porque agora a maçaneta é prateada e os pneus vem com neon de série.

- Compre! Compre! Compre! Gaste! Se endivide! Não importa se perderá noites de sono tentando pagar o carro novo, o importante é que seu visinho vai morrer de inveja toda manhã quando vir você saindo de carro zero! Isso te lembra uma propaganda?

E a igreja? E o evangelho? Está no mesmo caminho.

Os cultos são shows. As ovelhas são clientes. Os pecadores são o público alvo. Os pastores são mega-empresários. Os obreiros são gerentes. A palavra é a mercadoria, vendida à preço de banana (ou de rosa ungida, água do rio Jordão, etc...). A bíblia se tornou um “mercado” tão lucrativo, que nos últimos dez anos, foram publicadas no Brasil mais de 40 modelos. Tem bíblia pra tudo e pra todos. É apenas uma preocupação em tornar a palavra atraente a todos os tipos de pessoas? Sim e não. Aí também está envolvido o interesse comercial. Muitos dos líderes e formadores de opinião de nossas denominações não estão nem um pouco preocupados com o Reino de Deus. Querem ser reis no mundo. Não se contentam apenas em ser populares, querem ser populares e ricos. Querem fama, sucesso e poder. Então se vendem ao mercado e colocam preço nas ovelhas. Pasmem, mas ouvi há alguns dias atrás que um pastor ofereceu a outro a igreja, com tudo dentro por certa quantia em dinheiro. Quando ele disse tudo dentro, incluía os membros. Ou seja, para ele os bancos, o púlpito, o equipamento de som, e as pessoas, digo, os membros, são todos parte do “patrimônio” da igreja.

Vende-se de tudo. Tudo tem preço. A honra, a ética, a moral, o nome, a vida.

Fico chocado com as notícias de exploração sexual, tanto infantil como de adultos. O ser humano reduzido a um boneco vivo de satisfação dos desejos mais horrendos do coração das pessoas. Na estrada, altas horas da madrugada uma criança de 11 anos desfila e se expõe como uma porção de carne na vitrine do açougue. Ela não tem pai, nem mãe. Mas, e daí, problema dela, cada um se vira como pode. Na corrida pelo sucesso não há tempo de parar e socorrer outros, afinal, ela pode se tornar uma concorrente, e acabar sendo mais feliz que eu.

Eu estou tateando em busca de uma ínfima partícula de similaridade desse homem mercante com o criador doador dos dons. Não estou conseguindo ver... Sequer sentir.

O jovem se tornou bem sucedido. Agora tem uma moto, um carro, anda com as mulheres mais bonitas e desejadas do “pedaço”. Veste-se com as grifes da moda. Enquanto bebe com seus amigos, chega um de seus clientes; maltrapilho, fede como um cão, está tão magro que é possível visualizar cada osso de seu rosto. Tem nas mãos um celular de última geração, foi roubado mas, e daí, não importa os meios, o que importa é que ele tem com que barganhar mais quinze segundos de prazer. O jovem bem sucedido não se importa, e não faz questão de esconder isso. É um cliente. É uma fonte de lucros. Sustenta sua vida feliz, mesmo que para isso, tenha acabado com qualquer alegria de uma família inteira. Não lhe importa o fato de o pai daquele resto de gente ter morrido em depressão ao ver seu único filho aos quinze anos se enterrar vivo no crack, se seus primos, tios, mãe, amigos, todos foram golpeados mortalmente pela miséria do estado em que ele se enfiou. O jovem bem sucedido toma o aparelho das mãos ossudas do rapaz e em troca lhe dá uma pequena pedrinha, que lhe dará uns vinte minutos de prazer e fuga e então lhe lançará no inferno abissal. Mas o mercado está feliz porque o jovem encontrou uma fonte de lucro rentável e permanente, que não requer muitas inovações e tem público cativo (literalmente).

Meus queridos, não permitam que colem uma etiqueta em suas costas e lhe atribuam valor de mercado.

A felicidade não está nas coisas. Por mais que tenhamos e tenhamos. Somos mais infelizes. A felicidade está na comunhão com Deus e com os outros. Naquilo que ele nos deus de maior valor: A esperança de vida eterna.

“Se esperarmos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis dos homens” ICo. 15.19

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os Princípios Básicos da Reforma do Século XVI

 
A Reforma do século XVI foi uma volta às Escrituras Sagradas, um retorno à doutrina apostólica. Podemos sintetizar as ênfases da Reforma em cinco pontos distintos e axiais:

1. Sola Scriptura – Só as Escrituras – Os reformadores reafirmaram a supremacia das Escrituras sobre a tradição. A Bíblia é a única regra normativa de fé e conduta. Todas as doutrinas e ensinos forâneos ou estranhos às Escrituras devem ser rejeitados. A autoridade da igreja precisa estar debaixo da autoridade das Escrituras. Nenhum dogma ou experiência pode ser aceito se não tiver base na Palavra de Deus. Eis o que diz o artigo V da Confissão da Igreja Reformada da França, adotada em 1559: “Não é lícito aos homens, nem mesmo aos anjos, fazer, nas Santas Escrituras, qualquer acréscimo, diminuição ou mudança. Por conseguinte, nem a antiguidade, nem os costumes, nem a multidão, nem a sabedoria humana, nem os pensamentos, nem as sentenças, nem os editos, nem os decretos, nem os concílios, nem as visões, nem os milagres, devem contrapor-se a estas santas escrituras; mas, ao contrário, por elas é que todas as coisas se devem examinar, regular e reformar”.

2. Sola Fide – Só a Fé – Os reformadores sublinhavam também a supremacia da fé sobre as obras para a salvação. A salvação não é mérito humano, conquistado pela prática de boas obras, mas é obra de Deus, recebida de graça pelo homem mediante a fé em Cristo. A salvação não resulta da somatória de fé mais obras. A salvação é dom de Deus, recebida exclusivamente pela fé.



3. Sola Gratia – Só a Graça – Os reformadores reafirmaram a doutrina apostólica de que somos salvos pela graça. A graça é um dom imerecido de Deus a nós. O salário do pecado é a morte. Merecemos o juízo, a condenação, o inferno, mas Deus, pela sua infinita misericórdia, suspende o castigo que merecíamos e nos dá a salvação, que não merecemos. Isso é graça!

4. Solo Christu – Só Cristo – Os reformadores rejeitaram peremptoriamente a autoridade do papa sobre a igreja. O papa usurpa o lugar da Trindade. Ele usurpa o lugar de Deus Pai ao ser chamado de Pai da Igreja (Mt 23:9). Ele usurpa o lugar de Deus Filho ao ser chamado Sumo Pontífice (Supremo Mediador). A Bíblia diz que há um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1 Tm 2:5). Ele ainda usurpa o lugar de Cristo quando ele se auto-intitula a pedra fundamental da igreja sobre a qual a igreja foi edificada. Cristo, e não Pedro, é a pedra fundamental da igreja (Mt 16:18; At 4:11-12; 1 Co 10:4; 1 Pe 2:6-8). Além do mais, o papa não é um sucessor de Pedro, visto que não existe sucessão apostólica. Finalmente, o papa usurpa o lugar do Espírito Santo, quando se autoproclama o Vigário de Cristo na terra (o substituo de Cristo na terra). Essa posição é exclusiva do Espírito Santo (Jo 14:16-17; 16:7-14). O Espírito é o outro consolador que veio ficar para sempre com a igreja. Assim, a reforma resgatou a verdade infalível da supremacia de Cristo como o nosso salvador, mediador e rei. Por causa da obra de Cristo todos os salvos são sacerdotes reais. O sacerdócio universal dos crentes é uma verdade consoladora. Todos temos livre acesso à presença de Deus, por meio de Cristo. Desta forma, cai por terra toda hierarquia espiritual no Reino de Deus.

5. Soli Deo Gloria – Só a Deus a Glória – Os reformadores reafirmaram a doutrina bíblica de que Deus não reparte sua glória com ninguém. Somente ele deve ser adorado e honrado. Toda glória que é dada ao homem é vanglória, é glória vazia.

Por: Rev. Hernandes Dias Lopes (gentilmente cedido pelo mesmo).