Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.
E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.
Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado. [1]
Pois o que faço, não o entendo; porque o que quero, isso não pratico; mas o que aborreço, isso faço.
E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico.
Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim.
Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o bem, o mal está comigo.
Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus membros.
Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?
Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado. [1]
Antes de iniciar este assunto gostaria de informar que eu não estou esquizofrênico, não estou vendo coisas e muito menos sofro de dupla personalidade. Mas, realmente, existe outro EU.
No filme, EU, EU MESMO E IRENE, dos diretores Bobby e Peter Farrelly, o ator Jim Carrey interpreta um homem que sofre com um transtorno: ele tem duas personalidades. Quando não medicado, tem dificuldades em controlar sua segunda personalidade que é diretamente oposta a si mesmo. Seria seu alter ego. Enquanto Charlie é honesto, trabalhador, bom pai e pacífico; seu segundo eu, Hary, é mal educado, violento, trapaceiro, irresponsável e desrespeitoso. O extremo oposto de Charlie.
Estou usando este exemplo para tentar demonstrar o que seria essa nossa luta diária por vencer a nós mesmos. Nas palavras do Apóstolo Paulo: “Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico”. Tem outro. Sim, ele está aqui. Espreitando e aguardando a oportunidade de mais uma vez me subjugar. Me humilhar. Mostrar o quanto sou fraco.
É inegável o trabalho e exemplo do Apóstolo, mas ele mesmo admite que está sendo incomodado, importunado por uma força oposta à sua vontade mais pura. Paulo quer ser perfeito mas seu corpo (como ícone de toda a sua vontade escrava) o impulsiona ao erro, à armatia: errar o alvo.
Eu não quero pecar.
Eu não quero entristecer o Espírito Santo que habita em mim.
Eu não quero oferecer o templo para bacanais satânicos.
Mas, por mais que me esforce, sempre sou tomado por sentimentos e desejos que vão além de minhas forças. Nestas horas, se não for pelo Espírito de Deus, sou facilmente arrastado de volta ao abismo.
Algumas frases de Paulo, aqui, são extremamente reveladoras quanto à situação degradante em que foi mergulhada a humanidade.
Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado.
A primeira coisa que se nota aqui é que a culpa não é da Lei. Ela é boa. O problema está nas dimensões em que se encontram ela e nós. Enquanto a Lei é espiritual, nós somos carnais, vendidos ao pecado. Ou seja, não é a Lei que nos torna pecadores, somos pecadores mesmo não havendo lei. Mas, quando esta passa a existir, passamos então a ter que responder por nossos atos. Somos confrontados com nossa miserabilidade.
Não somos bons. Não somos santos. Não somos justos. Sequer honestos. E não foi a Lei que fez isto conosco, mas a maldição da desobediência que se alastrou de tal forma que poucas gerações depois do pecado original, Deus teve de intervir na história humana, pois estes estavam se tornando uma verdadeira praga sobre a terra (Gn. 4.8; 6.5-7; 11.1-9; 19).
Uma pergunta pode surgir destas afirmações de Paulo:
- Se Paulo é um homem regenerado, como pode referir a si mesmo como escravo do pecado?
Quanto a esta pergunta, Murray escreve em seu comentário aos Romanos:
“Deveríamos supor que ser chamado “carnal” é o mesmo que estar na “carne” (v.5; 8.8) e inclinar-se “para a carne” (8.5)? Tal raciocínio não é correto, por duas razões: (1) em 1 Coríntios 3.1 e 3, Paulo acusou os coríntios de serem carnais, por causa de sua inveja e contenda. Paulo não queria dizer que eles não eram regenerados, pois fica subentendido que eles eram crentes, pelo menos, bebês em Cristo. Portanto, ser chamados de carnal não é necessariamente equivalente a estar “na carne”. (2) Paulo reconheceu que a “carne” ainda residia nele (vv. 18, 25). Isto está intimamente associado, se não é um sinônimo, ao fato de que o pecado habita nele (vv. 17, 20). Se a carne habita nele, seria inevitável que, no que concerne à “carne”, ele tivesse chamado a si mesmo de “carnal”. E isto não era incoerente com o fato de ser ele um homem regenerado, somente porque assim se caracterizou, visto que a carne permanecia nele”. (Murray, 2003, p. 287). [2]
Então, o homem regenerado não se torna um ser à prova de quedas e corrupção.
Paulo quer ser perfeito e luta por isto. Quer viver para o Senhor e se dedica a isto. Quer receber o galardão no fim e corre para isto. Mas, apesar de todos os seus esforços, continua sendo homem, vivendo em um corpo humano, tendo em si uma natureza imperfeita e corruptível da qual ele sonha se livrar um dia.
“Porque é necessário que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade e que isto que é mortal se revista da imortalidade. Mas, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrito: Tragada foi a morte na vitória”. [3]
E ainda: “ Mas temos confiança e desejamos, antes, deixar este corpo, para habitar com o Senhor”. [4]
Paulo quer, tanto quanto qualquer um que um dia conheceu verdadeiramente o Senhor, deixar essa habitação corrompida para estar em perfeição diante daquele que é a razão de nossas vidas. Por quê? Segundo ele, porque não é possível viver em perfeição nesse casulo.
Por mais que me esforce, sou sempre trazido à memória que ainda estou no corpo e este tem inclinações que nem sempre são as que eu gostaria.
Falando de mim mesmo, sinceramente, sou uma sombra daquilo que gostaria de ser. E não falo de coisas materiais, falo de personalidade, caráter e comunhão com o Pai. Gostaria de cultivar melhor um vida santa. De ler a palavra com o mesmo prazer de quando a conheci; de sair para anunciar o evangelho sem motivações teológicas ou denominacionais, criando tempo e não esperando que ele sobre; de orar por saber que aquele é o momento em que vou ao céu e falo com o Criador, sem me preocupar em cumprir 7, 15, 30 ou 90 dias de campanha, fazendo isto todos os dias com o mesmo prazer; de não sentir atração pelo pecado, antes repudiá-lo estando ou não na presença de outros. Quero ser santo, mas sei que nenhum esforço meu, me fará alcançar essa plenitude.
Quando eu era novo convertido, não entendia Paulo, nem Elias, muito menos Jonas. Criticava os Judeus dos tempos sem lei em Juízes. Me irritava com as atitudes de Pedro e dos demais, demonstrando suas fraquezas, falta de fé, incompreensão, dureza de coração.
Hoje eu sei que sou tudo isto e mais um pouco. Se hoje pudesse conversar com Pedro sobre a noite da traição, não lhe perguntaria mais:
- Pedro, como pode? Como você teve coragem de fazer uma coisa destas?
Antes, lhe diria:
- Oh irmão Pedro! Como somos fracos e impotentes diante da tentação. Como foi a sensação de ouvir de Jesus o perdão por aquela noite?
Isso, porque eu anseio em um dia também ouvir de meu Senhor o perdão por minhas imperfeições, debilidades, fraquezas e incredulidades. Não sou melhor que as gerações que passaram e não sou pior do que as que ainda virão. Sou apenas humano. E não conheço texto que melhor explique o que sou como o faz o Salmo 51.
Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim.
Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos; de sorte que és justificado em falares, e inculpável em julgares.
Eis que eu nasci em iniquidade, e em pecado me concedeu minha mãe.
Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faze-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma.
Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste.
Esconde o teu rosto dos meus pecados, e apaga todas as minhas iniquidades.
Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável.
Não me lances fora da tua presença, e não retire de mim o teu Santo Espírito.
Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário.
Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti.
Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua cantará alegremente a tua justiça.
Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca proclamará o teu louvor.
Pois tu não te comprazes em sacrifícios; se eu te oferecesse holocaustos, tu não te deleitarias.
O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.
Eu quero ser perfeito e agradar ao Pai. Mas, o outro eu, quer pecar e tem prazer nisto, se realiza nisto.
Quando Davi cai em si e percebe a loucura que fez, teve a única reação possível àqueles que um dia conheceram o Senhor: Se arrependeu profundamente. Entendeu a pequinês do homem diante de seu Criador. E que, pela misericórdia, e somente por ela, ainda alcançamos perdão. Pois o Senhor conhece o que somos: “Pois Ele conhece a nossa estrutura, e se lembra de que somos pó” (Sl 103.14).
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo não está.
Certamente alguém, por causa desta frase, pensaria em dizer a Paulo:
- O que é isso irmão! Não diga uma coisa destas. Você é lavado e remido pelo sangue de Jesus. Você é um varão de fogo, cheio de poder! Isso é coisa do Diabo. Ele está tentando te desanimar. Clama o sangue de Jesus e vence o inferno!
Mas, o que o Apóstolo está falando é uma verdade que poucos querem ouvir ou compreender. Não aceitamos facilmente o fato de que, mesmo transformados, ainda permanecemos no corpo (símbolo na natureza caída) e este permanece inclinado a todo erro e pecado. Embora o homem interior esteja se renovando dia após dia, o exterior continua seu processo de corrupção.
Lidar com estas duas naturezas não é simples. Às vezes se torna doloroso ou vergonhoso.
Descobrir que o pastor mentiu, que a irmã teve um caso, que o líder da mocidade tem inclinação homossexual, que a dirigente do círculo de oração não controla seus impulsos pelas coisas alheias, que o reitor do curso de teologia é viciado em pornografia.
Isso dói, machuca a fé, a confiança. Nos choca. Nos impulsiona à desistência.
Por quê?
Porque esperamos encontrar na igreja a santidade absoluta. Um ambiente de total comunhão santa e desapego ao mundo. Imaginamos que aqueles que confessam o nome de Jesus como senhor e salvador não pecam, não sentem os mesmos impulsos que os “carnais”, não são tocados pelas paixões humanas. Isto está errado. E mais errado ainda estão os líderes (pastores, bispos, “apóstolos”) que incentivam os demais a construírem esta imagem deles, pousando de super crentes, demonstrando uma superioridade espiritual que impõe respeito e devoção a eles, quando no fundo, são tão imperfeitos quanto qualquer pecador miserável vivendo na sarjeta.
O que nos separa do mundo não é uma santidade espontânea de nossa parte. A nossa separação é uma obra exclusiva da graça de Deus.
Às vezes eu me pergunto por que Jesus me ama. Não é possível entender isso. Eu sou imperfeito demais, fraco demais, medroso demais, tímido demais, “vacilão” demais.
Se o Reino de Deus fosse uma firma, meu currículo seria dispensado na portaria, nem sequer entraria para a avaliação de conhecimento básico. Eu não tenho qualquer qualificação para o serviço cristão.
E não conheço qualquer um que tenha. Somos desqualificados desde a nossa origem.
- Nome do Pai?
- Adão.
- Principal qualificação?
- Errar, não conseguir atingir a meta (pecar – armatia)
Para o Reino de Deus, esse candidato não está qualificado.
REPROVADO.
Seria este o carimbo mais justo para nossa ficha diante de Deus. Mas, por um sentimento que a mim é impossível explicar, Ele sacrifica-se e supre nele mesmo todas as minhas faltas. Tudo o que me falta, ele completa por si mesmo na minha vida.
Somo justificados (Rm 5.1,2).
Somo santificados (I Co 1.2).
Somos purificados (Hb 1.3).
Somos guardados (I Pd 1.5).
Somos introduzidos no Testamento no qual não tínhamos qualquer direito (Rm 8.17).
Amo o Senhor no mais profundo da minha alma, embora meu EU exterior insista em desejar o pecado. Não quero ter que me enclausurar num mosteiro para alcançar uma vida separada. Não quero me separar das pessoas, quero me separar do pecado, e o pecado não está nos outros, está em mim. Ainda que me isolasse em uma ilha deserta, continuaria sujeito ao pecado, pois não posso ser separado do corpo. Não ainda.
Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?
A conclusão de Paulo sobre esta questão é o que nos dá esperança:
Graças a Deus, por Jesus Cristo nosso Senhor! De modo que eu mesmo com o entendimento sirvo à lei de Deus, mas com a carne à lei do pecado.
Não sou eu. Não é minha frequência aos trabalhos da igreja. Não é o auto valor do meu Dízimo.
Nenhum destes atos me livra da ira de Deus, pois o Senhor é Juiz incorruptível. Sou perdoado pela graça infinita do Pai, que por meio de Jesus me reconciliou com Ele, de modo que agora posso falar com ele com plena liberdade. Mesmo que ainda neste corpo incapaz de ser santo, dentro deste vaso de barro há um tesouro imenso guardado.
SOMOS TEMPLOS DO ESPÍRITO SANTO DE DEUS.
Oh Senhor! Perdoa nossa soberba. Perdoa estes cacos de barro que se acham muito especiais.
Perdoa-nos Senhor, porque a nossa boca se tornou numa fonte de vã gloriação. Estamos sofrendo com a síndrome de Babel, construindo nossa fama, em busca da maior glória para nós, mesmo que isso se faça à custa de teu Santo Nome.
Nos perdoa quando erramos o alvo, e ao invés de buscar a exaltação do teu nome, tentamos alcançar boa fama para nós mesmos usando o evangelho, enganando pessoas inocentes com nossa aparência de piedade e santidade.
Seja Senhor, o teu nome glorificado e o nosso esquecido, e nunca o contrário, pois importa que teu reino cresça e o nosso diminua. Importa que os homens conheçam o Nome que é sobre todo nome e, perdoados, se cheguem a ti, sem precisar passar pelo fulano da TV ou pelo super pastor.
Nos perdoe Senhor. Nos ajude a vencer o outro EU. Nos ajude a ser santos, pois por nós mesmos, sempre cedemos à nossa vontade caída.
________________________________________________________________
[1]
Rm. 7. 14-25.
[2]
MURRAY, John. Comentário Bíblico
Fiel – Romanos. Editora Fiel, 1ª Edição: São Paulo, 2003.
[3]
I Co. 15. 53,54.
[4]
2 Co. 5.8.