Acontece que nem sempre as questões existenciais são respondidas satisfatoriamente. Nestes casos, é comum o uso de uma expressão parecida: vazio existencial. É como estar com fome ou sede. Só há duas opções: ou sacia-se a necessidade do corpo, ou se esmorece e morre. Os problemas existenciais, de igual modo, têm de ser resolvidos para que o vazio interior seja preenchido. Davi se expressou desta maneira: “assim como a corça anseia pelas águas, a minha alma tem sede de ti, ó Deus” (Salmo 51.)
Historicamente, Deus vem sendo entendido como o fundamento primeiro e último da existência e, portanto, o único que pode dar sentido à vida. Num passado não muito distante, aqueles que ousassem declarar que Deus não existe, de pronto recebiam a alcunha de ímpios, néscios e insensatos, em alusão à Bíblia (Salmo ). Porém uma nova geração de ateus quer acabar com este estigma. E vai mais longe: quer virar a arma outrora apontada para si contra seus acusadores, os cristãos. O neo-ateísmo propõe resolver os problemas da humanidade extinguindo as religiões, a começar pelo cristianismo. Mas será que ele consegue dar sentido à vida? Será que é capaz de tranqüilizar a alma de seus adeptos? E quanto ao velho cristianismo, ele perdeu, de fato, seu valor? Deus é mesmo um delírio?
A paralisia do ateísmo
Albert Einstein dizia que a ciência sem a religião é coxa, aleijada ou, conforme outra tradução, paralítica. O que Einstein queria dizer é que a ciência é limitada, e não pode saber o que está por trás do mundo observável. A ciência é como a primeira instância de uma importante investigação policial: ela vai até certo ponto e a partir dali deve dar lugar a uma equipe mais especializada. Se as grandes questões que afligem os homens ficarem somente a cargo da ciência, mesmo que ela descubra toda a engrenagem do Universo, a vida continuará sem sentido e a humanidade, angustiada.
É muito custoso aos novos ateus admitirem isto. Em geral, eles preferem insistir que a natureza por si só pode resolver todos os problemas humanos e, quanto às questões em aberto, esperam que com o tempo as descobertas científicas as respondam. O que há de errado com estes ateus? Nas palavras de Einstein, eles são paralíticos. Contudo, embora se locomovam em cadeiras de roda, querem ajudar os transeuntes comuns a andar!
O retrato dos países ateístas acentua ainda mais esta ironia. Na Suécia, por exemplo, que tem índices altíssimos de ateísmo, o suicídio chega aos 25 por cento na faixa etária dos 15 aos 44 anos. O curioso é que os suecos estão no topo dos povos com melhores índices de desenvolvimento humano do planeta. Lá, educação não é problema, saúde pública não é problema, fome não é problema. Eles têm tudo, mas lhes faltam motivos para viver. No fim das contas, não têm o mais importante.
A abrangência do cristianismo
“...a religião sem a ciência é cega”. Este é o complemento da máxima de Einstein citada anteriormente. Então, é oportuno perguntar: o cristianismo sofre desta cegueira? O livro Verdade Absoluta (CPAD, 2006), de Nancy Pearcey, responde com um sonoro “não!”. Seguindo a trilha de Francis Schaeffer, um dos mais respeitados apologistas do século passado, a autora trata da relação entre o cristianismo e os saberes seculares. Ela afirma que a fé cristã é verdadeira não apenas no âmbito religioso, como também em referência a toda e qualquer realidade. “Em qualquer área de estudo, estamos descobrindo leis ou ordenações da criação pelas quais o Criador estruturou o mundo”, garante.
Com efeito, Nancy não postula uma verdade até então escondida, mas se une à história inteira do cristianismo. Desde os apóstolos, os cristãos lidam tranqüilamente com idéias e linguagens de outras culturas, como João, ao referir-se a Jesus como o verbo (logos) de Deus (João 1.3), termo que no pensamento grego designava o princípio responsável pela criação e sustentação do Universo; e Paulo, no discurso para os filósofos atenienses no Areópago, persuadindo-os de que Deus era o doador e mantenedor da vida: “Porque nele [em Deus] vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17.28).
Nos séculos seguintes, pensadores como Agostinho de Hipona, Anselmo de Cantuária e Tomás de Aquino deram continuidade à tradição apostólica e entraram para a história tanto da teologia quanto da filosofia. Foi durante o período que eles viveram, a chamada Idade Média, que surgiram na Europa as primeiras escolas e universidades.
Com o advento da ciência moderna, os cristãos não saíram de cena. Antes, lançaram os fundamentos do novo método científico. Alguns deles revolucionaram suas áreas de estudo: Galileu Galilei, na astronomia, Isaac Newton, na física e na matemática, e Gregor Mendel, na genética. Em comum, tinham por hábito considerarem que apenas um ser sobrenatural podia dar a explicação última às suas descobertas. Portanto, o cristianismo, além de não sofrer de deficiência visual, iluminou o caminho da humanidade rumo à descoberta da verdade total, na confiança de que toda verdade (com V maiúsculo) provém de Deus.
As respostas propriamente ditas
O fato de o cristianismo dialogar com conhecimentos extra-religiosos, contudo, não valida sua premissa básica, isto é, a existência de Deus. A própria Bíblia diz que “ninguém jamais viu a Deus” (1 João 1.18). Sendo assim, os ateus, ainda que aleijados, podem estar com a razão. Mas não estão. Aliás, um dos pontos em que a razão mais favorece a fé cristã é o conjunto de argumentos a favor da existência de Deus. Norman Geisler e Frank Tureck compilaram estes argumentos no livro Não Tenho Fé Suficiente para Ser Ateu (Vida, 2006).
Argumento Cosmológico: o nome é estranho, mas refere-se ao estudo da origem do Universo. Procura responder à pergunta “de onde eu vim?”. Durante muito tempo, os ateus acreditaram que o Universo era eterno, mesmo contrariando o princípio da causalidade, tão bem exposto por Tomás de Aquino há mais de 700 anos. Segundo este princípio, todo efeito tem uma causa, que tem outra causa, e outra, e outra... Como uma regressão infinita é racionalmente inconcebível, deve ter havido uma causa primeira que não foi causada, ou seja, Deus. Uma analogia válida, ainda que imperfeita, é a de um jogo de dominó com as 28 peças dispostas sobre a mesa, na vertical, uma após a outra, a uma pequena distância entre si. Se a primeira peça cair, todas as outras inevitavelmente cairão. Mas para que isso ocorra, algo ou alguém tem de empurrar a primeira peça, pois ela não pode causar sua própria queda. A teoria do Big Bang confirma este argumento. Segundo esta teoria, o Universo surgiu de uma grande explosão num certo ponto do passado, criando o espaço, o tempo e a matéria. Antes disso, não existia nada. Como o nada não cria nada, é de se esperar que houvesse um ser não-espacial, atemporal e imaterial que criou tudo o que veio a existir. Daí, o princípio da causalidade apontar para Deus, que segundo a teologia cristã não é espacial, nem temporal, nem material.
por James Meira.
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