domingo, 10 de janeiro de 2010



Autenticidade – o que é isso?


Quando eu cursava a sétima série do ensino médio (hoje fundamental), as meninas tinham um caderninho que, se não me falha a memória, era chamado de “Diário” ou “Caderno de recordações”. Os meninos viviam pegando no pé delas por conta destas “coisas de criança”, mas, na verdade, ficavam todos loucos pra saber se seriam convidados a escrever neles. É que escrever no caderno de uma menina bonita dava status ao felizardo.

Pois bem, nestes cadernos vinham perguntas que se referiam às preferências de cada um. Eram perguntas que podiam ser bem abrangentes, como também simples e diretas. E, relembrando hoje das perguntas e respostas que vi em muitos destes cadernos, desejei usá-los como exemplo do assunto sobre o qual pretendo refletir hoje.

Quase que invariavelmente, me lembro, as perguntas e respostas eram:

- Seu cantor preferido?

R: Renato Russo

- Cantora?

R: Marina (que na época não usava o Silva)

- Banda ou grupo preferido?

R: Legião Urbana

- Música?

- Pais e filhos (Legião Urbana)

Atriz?

R: Fernanda Montenegro

Ator? Aqui variava um pouco, a depender do gosto do cliente. Podia ser:

- Fábio Assunção, Antônio Fagundes, Tarcísio Meira...

Nunca entendi o critério usado por elas para escolher seus preferidos. Talento ou Beleza? Sei lá!

Então, em um destes momentos que agente vai ao passado e volta de súbito, percebi que os adolescentes de minha época cresceram e se tornaram jornalistas, padres, pastores, escritores, pregadores itinerantes, blogueiros e outras coisas. Percebi que as idéias são reduplicadas, mesmo que não se saiba de onde se originou e com que motivações foram expostas.

Descobri que o “politicamente correto” é nada mais que o simples fato de falar e apoiar o que todo mundo diz que é certo, bom, justo – independente das próprias convicções.

Percebi que se eu estudo pedagogia e não reverencio Paulo Freire, não posso ser levado a sério em minhas colocações – mesmo que esteja certo.

Que se gosto de música brasileira, mas não sou chegado no samba, sou “alienado culturalmente”, não conheço minhas raízes ou, como diz a letra, “sou doente do pé”.

Entendi que discordar das previsões catastróficas a respeito das mudanças climáticas, e que se não acredito que o aquecimento global é um problema mundial, sou quase que um retardado ambiental.

E, se tenho reservas quanto aos diretos humanos, e não concordo com as políticas de cotas para negros, modificações na Constituição para favorecer os homossexuais, normatização da profissão de prostituta. Sou retrógrado, débil, ou anti-socialista.

Então me pergunto:

É possível encontrar autenticidade lendo ou ouvindo um discurso, navegando pelos milhares blogs, acessando as milhões de páginas na web, ouvindo um sermão de um pastor ou padre?

Ser autêntico não dá ibope. Ser autêntico ofende.

Quer ter notoriedade? Fale o que as pessoas querem ouvir.

Quer ser famoso e bem querido? Não discorde dos defensores do aborto, dos direitos homossexuais, e muito menos daqueles que defendem as culturas indígenas. Independente do que os tais façam, sempre estarão certos.

Enfim, ser autêntico não é ser verdadeiro tampouco sincero.

Então seja autêntico. Repita o que todo mundo diz.

2 comentários:

  1. Nem tanto ao céu e nem tanto a terra amigo. A vida não é oito ou oitenta!
    Existe uma fase em nossas vidas, em que você é reconhecido e respeitado pela sua história, competência e principalmente pelo seu caráter. Seus defeitos são aceitos, e tolerados, e você pode ser você!
    Por incrível que pareça, ela ocorre, justamente quando você não liga mais, para o politicamente correto, não se importa mais se vai ser aceito, se vai agradar...
    Vem de uma liberdade que tem seu preço, tem gente que paga, outros não.
    Muitos dos grandes homens da nossa história foram contra tudo o que seu tempo acreditava, e hoje seus nomes estão imortalizados. Sua razão e sua “verdade” foram os únicos amigos e guias de sua jornada.
    Mas independente do politicamente correto, existe a lógica, e quando a lógica bate de frente ao fanatismo estabelecido, mesmo derrotado, você acaba saindo fortalecido.
    Sempre!
    Ser querido e popular não é ser respeitado!
    E o respeito é o início da sua liberdade.
    Abraços

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  2. Oi Sidney,
    É disto que estou falando. Eu sei que há profissionais que tem uma autenticidade nata. Eu sei que pessoas com mentes brilhantes nem sempre são entendidas em seu tempo, mas, de uma forma ou de outra, provarão que tinham razão. É ESTE MEU PROTESTO E APELO!

    Que haja uma disseminação de boas idéias, notícias compromissadas com a verdade, opiniões não baseadas no senso comum.

    Procuro por pessoas que não entraram no barco sem remo ou leme, e agora segue a correnteza. Eu sei que há. Mas é um trabalho de garinpo.

    Um abraço.

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