segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O Bom Pastor

 No evangelho de João, capítulo 10 está escrito:

“Eu sou o Bom Pastor; o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas” . E ainda: “Eu sou o Bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas e das minhas sou conhecido”(1) .

Jesus vinha tendo há alguns dias, debates muito fortes com os mestres da Lei, tanto escribas como Fariseus. Começando no capítulo cinco quando curou o paralítico em Betesda, em um dia de Sábado, passando por seu discurso inflamado onde se declara igual ao Pai e revela a dureza do coração dos judeus e a origem de sua tão grande resistência à sua palavra – o diabo. Tem um novo embate no capítulo oito, quando surpreende a todos com seu pré-conhecimento dos pensamentos daqueles que queriam a condenação da mulher mas não eram perfeitos, e logo depois faz um novo discurso que ofende a ideia farisaica de superioridade espiritual dos descendentes de Abraão. Mas, certamente, o maior contraste nestes textos de João, está em seu relato da cura do cego de nascença.

O capítulo nove começa contando a história de uma ovelha perdida, cega, condenada a viver na escuridão e sustentada por esmolas que conseguia mendigando. Todos os dias pessoas passavam por ele indo ao templo, fazendo compras, saindo para trabalhar. Todos passavam e o viam ali, mas ninguém teve o mesmo olhar de Jesus. Todos viam o mendigo cego. Jesus viu uma ovelha perdida cuja alma gritava por socorro.

Sacerdotes, Fariseus, Saduceus, Helenistas, Herodianos, Zelotes, Levitas... todos viram este homem, mas só Jesus ouviu seu clamor silencioso. Não! Ninguém pecou. Não é um castigo, mas uma oportunidade. Faz o lodo. Unge os olhos do homem. Ele é levado até o tanque de Siloé para lavar-se. Volta a ver. Mas, quem ele realmente quer ver não está mais ali.

Os Mestres judaicos provam mais uma vez que não entendem as palavras da Lei, da qual dizem ser mestres. Provam que o cego vê muito mais que eles. Provam a verdade das palavras de Jesus: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem sejam cegos”(2).
O cego encontrou-se com o bom pastor.

O POVO Judeu, neste período da história, está vivendo um total desamparo, pois seus líderes político-religiosos estavam vendidos sob o poder de Roma. O sumo sacerdote nem de longe lembrava a gravidade da chamada ao santo ministério. Caifás era genro de Anás, que lhe antecedeu no sacerdócio, mas, nenhum dos dois tinha qualquer ligação com as famílias sacerdotais dos levitas e chegaram ao cargo por indicação política, visto que Roma destituía e nomeava o Sumo sacerdote conforme o capricho de seus imperadores (3).  Não havia uma referência espiritual, pois todos os grupos se organizavam em estrutura de partido e todos queriam uma parte no poder sobre Israel, especialmente sobre Jerusalém.

Fariseus ostentavam a aparência de santidade e impunham pesadas exigências sobre o povo alegando autoridade para interpretar as escrituras. Saduceus lutavam para sobrepor-se aos fariseus e não tinham interesse na queda de Roma, afinal, gostavam do poder (assim como muitos hoje). Os Essênios radicalizaram e separaram-se completamente tanto dos “poderosos da religião” como do próprio povo, vivendo sob regime monástico. Conclusão: o povo estava “cansado e abatido, como ovelhas que não tem pastor” . Eles precisavam de pastores, e não de administradores, ou marketistas, ou animadores, nem de anjos, nem de espetáculos. Só de um Pastor. Um Bom Pastor.
Mas isto não era novidade.

Deus fala a Ezequiel, no capítulo 34, sobre aqueles que presidiam sobre o povo naqueles tempos. O SENHOR os acusa, pois eles eram egoístas (3), maus (4), perversos e negligentes (5). Pastores de si mesmos, engordando com o melhor da ovelhas sem lhe dedicar qualquer cuidado.

Então, no versículo 11 Ele mesmo sai em busca de seu rebanho. O Sumo Pastor vai em busca de suas amadas ovelhas. E no versículo 23 faz uma promessa:

“E levantarei sobre elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é quem há de apascentar; ele lhes servirá de pastor”.

Deus vinha assistindo todos aqueles anos de abandono por parte dos que deveriam cuidar do rebanho, mas estavam preocupados apenas em apascentar a si mesmos, e não mais admitiria isto. Levantaria um Pastor. Um Bom Pastor.

É interessante que é citado Davi como sendo este bom pastor que cuidaria dos rebanhos do Senhor. É evidente que esta é uma alusão direta ao descente mais nobre da linhagem davídica: Jesus de Nazaré. Este é o Sumo Pastor como disse Pedro .

Diante de tudo isto Jesus agora, em meio a uma multidão, declara: EU SOU O BOM PASTOR e todos que vieram antes de mim são ladrões e salteadores. O povo estava perdido entre muitos problemas sociais e espirituais. Viviam em uma nação oprimida pelo poder estrangeiro que não respeitava sua cultura, seus sentimentos, suas memórias, sua religião. Liderados por Herodes, que nada mais era que um fantoche romano, que, ainda pior, tinha como único objetivo se manter no poder e no luxo, independente dos sacrifícios que o povo precisasse fazer para isto. Seus profetas eram comprados, seus sacerdotes: empregados. Não havia quem se importasse. Os essênios radicalizaram em um total isolamento. Os escribas e fariseus pioravam ainda mais as coisas, amentando o sentimento de culpa do povo, eximindo, é claro, a si mesmos de qualquer responsabilidade.

Então surge Jesus – O Bom Pastor. Oferece às suas ovelhas água (Jo. 4.10), alimento (Jo. 6.35), descanso (Mt 11.28-30), segurança (Jo. 14.1-3). Davi descreve o trabalho do Bom Pastor no salmo de número 23:

Deitar-me faz em verdes pastos – Provê alimento de boa qualidade;

Guia-me mansamente às águas tranquilas – Provê boa água e carinho;

Refrigera a minha alma – Provê paz;

Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome – Orienta na verdade;

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e teu cajado me consolam – Inspira confiança e segurança;

Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o mau cálice transborda – Provê alegria em abundância;

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do SENHOR por longos dias – Provê esperança inabalável.

Certamente o ofício de pastor tem sido desprezado, mutilado e desviado de seu propósito, mas o Sumo Pastor permanece, e todos os demais – verdadeiros ou não, sinceros ou mentirosos – estarão um dia perante Ele para apresentar o rebanho.

Somos ovelhas de um aprisco maior, melhor. Nossa habitação não é aqui.

Temos um que zela por nossas almas e, se alguém aqui que deveria fazê-lo não o faz, não importa; Deus já nos deu um Pastor segundo o Seu coração.

Jesus é o Bom Pastor, que deu a vida por nós, suas ovelhas.
_________________________________________________________________________
[1] Jo 10.11,14
[2] Iden 9.39
[3] Para um estudo mais aprofundado do tema, consultar a Eciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, Ed. Hagnos, nos artigos Anás, Caifás e Sacerdócio.

domingo, 20 de novembro de 2011

Cristo, nossa Vitória!

Em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou.  (Romanos 8:37)

Você não se sente encorajado ao ler estas palavras de vitória? Provavelmente, não existe texto bíblico melhor para falar disto do que Romanos 8. Vamos ver um pouco do que Paulo fala. Ele primeiro pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo?” e até dá algumas possíveis respostas: “Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?” (v. 35). Ele chega a declarar que os crentes, por amor a Jesus, enfrentam “a morte todos os dias”, sendo “considerados como ovelhas destinadas ao matadouro” (v. 36). Depois destas fortes declarações sobre sofrimento, Paulo vem com a bombástica declaração: “em todas estas coisas somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou [Jesus]” (v. 37). Por meio de Jesus, somos mais que vencedores “em todas estas coisas”. Preste atenção! Em todas estas coisas e não “por cima dessas coisas”. Ou seja, Paulo está falando que em Cristo Jesus somos mais que vencedores mesmo passando por tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, ou morte por espada.

“Calma aí? Como assim? Pensei que ser mais que vencedor era ter uma fé tão forte ao ponto de não passar fome, mas ter a abundância do Senhor; não ter angústia, mas viver uma vida confortável. Como assim Paulo? Isso parece mais derrota. Como somos vitoriosos em meio a tanta aparente derrota?”

Paulo declara que isso é “por que… nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (v. 38,39). Nossa vitória está no fato de o sofrimento de todos os dias não serem capazes de nos separar de Cristo, e não por estarmos isentos de aflições. Pelo contrário, Paulo nos diz que por amor a Jesus enfrentamos a morte diariamente.

“Mas… mas… Eu tenho ouvido pregações sobre vitória, cantado músicas que falam de sucesso e lido livros sobre ser um campeão que não vive uma vida sofrida. Me disseram que se eu tivesse fé suficiente eu seria rico e nunca ficaria doente. Eu sei, eu não sou rico e fico doente, mas isso é porque eu não tenho uma fé tão forte como a do profeta.”

Bom, eu acho que você vai concordar comigo que Paulo provavelmente era um homem de fé. Se você ler 2 Coríntios 11 o verá contando sobre sua vida e os sofrimentos que passou. Ele diz que levou varadas e pedradas, passou por três naufrágios, passou fome e sede e muitas vezes sentiu frio e estava nu. Será que Paulo se esqueceu de declarar que ele era mais que vencedor? Será que ele não teve fé para profetizar riquezas? Será que ele não seguiu algum princípio bíblico para uma vida plena? É óbvio que o problema não era em Paulo.

“Tudo bem. Mas Paulo era um apóstolo. Eu não preciso sofrer por Cristo, preciso?”

Lembra que Paulo disse: “Por amor de ti enfrentamos a morte todos os dias”. Será que você ama a Jesus ao ponto de considerar Ele como seu Tesouro mais preciso e abandonar tudo por Ele? Será que você valoriza Cristo como mais precioso que saúde e riquezas? O autor de Hebreus nos faz o seguinte convite: “Saiamos até ele, fora do acampamento [do conforto], suportando a desonra que ele suportou”.

Você está pronto, a por amor a Jesus, enfrentar a morte todos os dias, desprezando as riquezas deste mundo? Ou você vai, por amor ao dinheiro, usar Jesus como seu cheque em branco?

Quero convidá-lo a ser verdadeiramente mais que vencedor em Cristo Jesus, passando por todo tipo de sofrimento por amor a Ele, sabendo que nada jamais irá separá-lo do seu verdadeiro Tesouro: Jesus.

 
Por Vinícius Musselman Pimentel e Yago Martins © Voltemos Ao Evangelho  voltemosaoevangelho.com e Cante as Escrituras canteasescrituras.com
Texto extraído com permissão do blog Voltemos ao Evangelho.

sábado, 19 de novembro de 2011

OUTRO DÍZIMO - continuação 1

Temer.

Estou há dois dias parado neste tema, porque temi escrever sobre ele. Desde criança eu ouço duas versões sobre o temor de Deus: uma diz que devemos temer a Deus porque ele é um juiz severo e conhece aqueles que se dizem bons e não são. Diante dele vale o que está escrito – sem misericórdia. Um exemplo disto é o desfecho da história do Alto da Compadecida, em que Maria aparece como única capaz de se compadecer (daí o nome) do pecador, pois Jesus, o justo juiz, está pronto para atender as acusações do Diabo e condenar a todos.

A outra, ganhou força há alguns anos, depois das tragédias do atentado ao Word Trade Center e à Tsunamy que varreu a costa da indonésia e atingiu outros países no pacífico. Trata-se da Teologia Relacional. Essa “nova” interpretação da relação de Deus com os homens não passa de uma repaginada no velho conhecido Teísmo Aberto. Aquele tem como maior promotor no Brasil o pastor da Igreja Assembleia de Deus Betesda, Ricardo Gondim, enquanto que este último tinha como maior expoente da idéia o Dr. Clark Pinnock (1),   falecido em 14/08/2010.

O Teísmo Aberto, ou a Teologia Relacional tentam adaptar os anseios humanos à revelação de Deus. Deus, neste pensamento, não é onipotente ou onisciente, se surpreende com o futuro, pois este ainda não está determinado, visto que está em construção numa parceria entre Deus e os homens. Mas, no fim, os homens se tornam mais poderosos que Deus, pois Ele se aniquilou para se relacionar com estes e depende de suas decisões para agir. Em uma declaração do Pr. Ricardo Gondim como resposta às causas do Tsunami, ele diz:

Não, Ele não pôde evitar a catástrofe asiática. Assim, sinto que a morte de milhares de pessoas, machucou infinitamente mais o coração de Deus do que o meu – o sofrimento é proporcional ao amor. O pouco que conheço sobre Deus e sobre seu caráter me indica que há muitas lágrimas no céu.
Mas Deus podia e pode se fazer presente no meio da tragédia. Ele podia ter evitado muitas mortes, se déssemos ouvidos aos seus princípios e verdades e a humanidade usasse o dinheiro gasto em armas e bombas para viver num mundo mais justo. Bastava que um sistema de alarme, construído pelos homens, tivesse soado e muitas vidas teriam sido poupadas. Agora, o rosto de Deus se evidenciará nos pés e nas mãos de cada voluntário que acudir aos que choram. (2)

 Isso é loucura! Desvario. Deus, impotente ante as tragédias humanas.

Temer o Senhor depende, antes de tudo, de um prévio conhecimento do Todo Poderoso. Os homens tem se tornado cada vez mais arrogantes e presunçosos, senhores de si mesmos e, chocam-se com a ideia de se submeter a outro mais forte e poderoso. A luta aqui na terra é para ser o mais poderoso, e não para servir ao mais poderoso.

Mas, diante da tragédia, da impotência ante a morte, da falibilidade dos planos futuros, da incerteza quanto ao amanhã, se veem obrigados a considerar a ideia Deus. Então, formulam todo tipo de pensamento e modelam um ser compatível com suas mentes cauterizadas e infinitamente inferiores à mente divina.


“Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Assim como os céus são mais altos que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos”. Is 55.8,9.

Creio que este seja o maior motivo de tudo o que estamos assistindo. Com suas atitudes, pessoas no mundo inteiro pensam que destronaram Deus e estão livres para pensar e agir conforme seus instintos, gerenciando o mundo como bem entendem que deve ser, sem contas a prestar. Afinal, a felicidade é a gente que faz! Ledo engano.

Não! Deus não saiu do trono. Não criou um carro inteligente, deu a partida e soltou ladeira abaixo. Ele está no controle, e esta é a base para o temor.

Jesus é categórico quando diz aos discípulos:

E digo-vos, amigos meus: não temais os que matam o corpo e depois não tem mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei àquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Lc 12.4,5.

Sim, o Soberano Absoluto tem poder sobre nossas vidas, e também sobre nossa morte e nosso futuro pós-morte. Ele é longânimo, mas já determinou o tempo dos ajustes. 

Mas, falar de temor a Deus, em uma sociedade cada vez mais libertina e desregrada é, no mínimo, um desafio. Alunos não reconhecem a autoridade dos professores, cidadãos não reconhecem as autoridades, políticos não reconhecem a autoridade do povo, filhos não reconhecem a autoridade dos pais. E tudo isso porque queremos ser livres. Nesse andamento das coisas, logo logo estaremos livres da vida.

Como disse Dostoiévski: Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido. (O diálogo com o demônio em Irmãos Karamazov, 1879).

Provérbios 14.27:
“O temor do Senhor é uma fonte de vida para preservar dos laços da morte”.

Os princípios bíblicos não tem e nunca tiveram intuito cerceador de liberdade, antes são norteadores para a preservação de uma vida saudável e feliz. Mas tudo começa no temor ao Senhor. Entender que há um SENHOR SOBERANO no céu que rege todas as forças naturais e sobrenaturais, gera no coração dos fiéis segurança, mas, nas mentes cauterizadas e vendidas à ilusão vaidosa do poder temporal, é um empecilho à auto afirmação.

Temer o Senhor é TER MEDO SIM, mas não do Senhor e sim de se desviar de sua graça, de estar do lado errado no juízo, de ser alvo de sua justiça. Esse Deus caricaturado e despido de autoridade e de seus atributos imutáveis, não passa de uma tentativa infantil de ignorá-lo, esperando que isso se torne realidade no fim. E depois dizem que nós é que somos alienados.

Temer a Deus gera vida, pois Ele é o doador da vida e a concede em abundância aos que lhe buscam com humildade.

Temer a Deus guarda da morte, pois Ele é uma fortaleza no dia da angústia para os que o conhecem e seus mandamentos preservam a alma do temente.

Temer ao Senhor é reconhecer, confessar e vivenciar a cada dia sua soberania. O Senhor é soberano e por isso não se explica, não se arrepende, não barganha. Sua palavra é autoridade e não se pode questioná-lo.

Essa é a diferença entre os que temem e os soberbos. Àqueles, o Senhor ama, mas, a estes ele resiste.

_________________________________________________

1 - Clark H. Pinnock (3 de fevereiro de 1937 em Toronto, Ontário, Canadá) era um teólogo cristão, apologista e autor. Foi professor emérito de Teologia Sistemática no McMaster Divinity College.
 2 - Citado em http://www.monergismo.com/textos/sofrimento/tsunami_gondim_eros.htm
* Todas as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Corrigida (1995).

OUTRO DÍZIMO

“E agora, ó Israel, que é que o Senhor pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, que andes em todos os seus caminhos e o ames, e sirvas ao Senhor  teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do Senhor, e os seus estatutos, que hoje te ordeno, para o teu bem? Dt 10.12-13

Amanheceu o dia. A mulher corre para organizar o café da manhã e o homem vai até o quarto acordar o filho que vai à escola. Todos tem pouco tempo antes de sair e tomar seus rumos: o homem para seu trabalho, a mulher também, mas, antes precisam passar na escola para deixar o menino. Meio dia a corrida se inverte. Rápido porque o tempo de almoço é curto e ainda é preciso levar a criança para a casa da avó onde passará a tarde até a hora em que o casal sair de seus trabalhos, passarem para pegar a criança, voltar para casa, preparar o jantar e servi-lo, por o menino para dormir, dormir e dormir. No outro dia, tudo começará outra vez.

A rotina desgasta, frustra, cansa, anestesia. Estamos tão presos a ela que em alguns momentos nos esquecemos que somos humanos, habitando em um corpo humano, sujeito à limitações. Agimos como se o tempo fosse um inimigo tenebroso, lutamos contra ele. O tempo não é inimigo, ele assim se transveste para aqueles que não o tem ao seu lado, que não o utilizam com sabedoria.
Estamos cheios de obrigações a cumprir, e pomos tudo em um mesmo balaio.

Pagar as contas, fazer as compras, levar o filho ao médico, fechar um negócio, ligar para um cliente, cumprir uma carga horária, ir à igreja e, se der tempo, no fim do dia, falar umas duas palavrinhas com Deus na antessala do sono.

Nossas prioridades estão nos matando. Literalmente.

Estamos cada vez mais estressados. Temos problemas no coração, a pressão se altera facilmente, o colesterol só vive nas alturas, a diabetes é uma sombra incômoda, o stress nos acompanha a todo lugar que vamos, (mesmo quando nosso destino é a igreja). Gastrite, úlcera, herpes, depressão, síndrome do pânico; nossa sociedade se tornou um parque para as moléstias da vida contemporânea.
Por quê? Porque estamos invertendo as coisas. Vivemos para o trabalho quando deveríamos trabalhar para manter a vida. Estabelecemos padrões altíssimos como meta e sacrificamos tudo mais para alcançá-lo, mesmo que isso aconteça à custa da saúde ou da própria vida. Estamos buscando materializar as fantasias vendidas nas novelas, nos filmes e nos programas de TV e rádio e na ânsia por realizar os sonhos adquiridos (aqueles que na verdade não são seus, você os adotou depois de ser convencido pelo mercado), muitos põem em jogo sua honra e dignidade, corrompendo-se e aniquilando a única coisa que tinham de real valor: a honra do próprio nome. Como ensinou o Apóstolo Paulo a Timóteo:

“Mas, os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição”.

Uma vida feliz não precisa ser, necessariamente, aquela que sonhamos. Mas, é possível ser feliz, transformando nossa realidade a cada dia, só dependendo das prioridades que estabelecemos.  O que está no centro de minha vida? O que é mais importante: Onde quero chegar ou como quero chegar? Com que lentes lemos o mundo ao redor?

O texto de Deuteronômio é revelador no que diz respeito àquilo que deveria ser nossa prioridade. Deus chama seu povo para um concerto e lhes lembra agora as coisas simples que exigiu.

Temer, obedecer, amar e servir.
continua...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Pessoas em promoção


PRODUTO DE ALTA QUALIDADE


GRANDE ESTOQUE

BOA VARIEDADE
BAIXO CUSTO DE MANUTENÇÃO
 

ÓTIMO RETORNO



EXCELENTE VALOR DE REVENDA




Se alguma destas imagens te incomodou, o que aconteceria se alguém de sua família estivesse em uma delas como vítima?

SOMOS DEMASIADAMENTE APÁTICOS COM O SOFRIMENTO ALHEIO ATÉ QUE ELE DEIXA DE SER ALHEIO.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Um amigo importuno

Acordo pela manhã e ao tentar levantar da cama sou avisado da pior forma que deveria ter mais cuidado com minha postura ao dormir. Uma dor agonizante e paralisadora trava os músculos de meu pescoço e sou obrigado a me mover como um robô durante todo o dia. Ela está ali, presente, incomodando a cada passo, a cada movimento de cabeça. Essa coisa maligna me prende e limita. A dor impõe respeito.

Ela é quase onipresente no dia-a-dia de qualquer pessoa. Não importa se você não tem uma dor crônica, ou se ninguém em sua família sofre com este mal, alguém perto de você está sofrendo. Ligue a TV, o que você ver entre as notícias? Dor. Abra uma revista, e quem aparece nas manchetes? A dor. Converse distraído em uma roda de amigos e quem se apresenta como assunto? Dona dor.

Pode parecer pessimista ou depressivo, mas se você olhar bem saberá que tenho razão quando digo que a dor está tão presente na vida das pessoas, que já faz parte de seu cotidiano.

Os programas de TV estão cheios de recomendações para evitar as dores. Sejam aqueles alimentos que diminuem os desconfortos da menstruação, sejam as atividades que aliviam a pressão sobre a coluna, sejam as terapias que reduzem os efeitos das enxaquecas... Tem sempre uma receita para não sentirmos dor ou, pelo menos, não tanta.

Pode parecer estranho, mas a dor é aliada e não inimiga. Ela se torna inimiga quando não é ouvida nas primeiras vezes que fala.

A primeira vez que senti dores no pescoço, não liguei, achei que era só a consequência de uma noite mal dormida. Quando fui procurar um médico, minha companheira, Dona dor, estava gritando comigo. Passei um mês fazendo aplicações e fisioterapias, usando um imobilizador no pescoço. Se tivesse ouvido quando ela sussurrava, não teria passado por este constrangimento.

Sentir dor é sempre uma péssima experiência, mas em nossa sociedade ocidental, não é só um incomodo físico ou psicológico, é economicamente inviável. Em uma cultura do “Sem Tempo”, dor é mais um entrave ao progresso. Então, não há tempo para sentir dor, para analisa-la, para buscar sua causa, para tratar seu causador.

Estamos vivendo a era da NÃO DOR. Mas, até onde isso é bom?

No princípio, a dor parecia estar presente, mas não incomodar tanto. O primeiro relato de dor na Bíblia está registrado no livro de Gênesis 3.16-18:
E á mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de dores darás à luz filhos; o teu desejo será para teu marido e ele te governará. E à Adão disse: Visto que atendeste à voz de tua mulher e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses, maldita é a terra por tua causa; com dor comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também ela te produzirá, e comerás a erva do campo.

O texto bíblico acima traz alguns detalhes interessantes.

1-    Quando Deus anuncia a maldição do pecado sobre a mulher, Ele não insere a dor no mundo. Ela já existe (“multiplicarei” aparece demonstrando que o que antes existia era bem menos agressivo). O que acontece é a desvirtualização de sua missão. O pecado levou a dor a patamares nunca antes conhecidos por Adão e Eva, e isso, não só na esfera física;
   
2-    Ao homem também é imposta a maldição da dor, mas, no seu caso, atinge sua tarefa diária. Se antes era prazeroso cultivar a terra, agora é enfadonho e causa dores. O homem sofrerá tentando cultivar uma terra que geme por sua culpa e que não mais lhe dará o alimento espontaneamente, mas somente com esforço desgastante e doloroso;

3-    Até então, a terra só produzia plantas e árvores benéficas ao ser humano. Ela não o agride. Isso agora mudará porque nascerão espinhos e cardos. A natureza se arma contra agressor que, até então, era seu aliado, companheiro, senhor. Ela provocará a dor nele e ele a submeterá a muitas dores.

A dor se tornou um entrave à felicidade. Porém, nem sempre sentir dor deve ser entendido como uma tragédia. Nosso problema é que vivemos em um mundo em que o prazer é um fim em si mesmo. A mínima dor faz as pessoas se sentirem derrotadas e amaldiçoadas. Não deveria ser assim.

A dor faz parte do sistema de defesa do corpo. Qualquer pessoa normal sente dor. Ela é quem nos avisa que há algo errado, que em algum lugar, nosso sistema foi invadido ou lesionado, ou, algum órgão está com dificuldades para trabalhar devido à alguma intromissão de vírus ou bactéria.
Sentir dor é necessário.

Há uma doença conhecida como Insensibilidade Congênita à Dor. Pessoas que sofrem deste mal são capazes de fazer procedimentos médicos altamente dolorosos sem sentir qualquer dor. Desde um procedimento odontológico como canal, até uma cirurgia para por um osso no devido lugar. Nada, não sentem absolutamente nada. Isso é muito bom, certo?

ERRADO!

Por causa deste bloqueio total à dor, as crianças sofrem lesões e fraturas graves sem se perceberem do mal que isso representa. Muitas se automutilam, outras, por não receberem o aviso natural que algo está errado no corpo, continuam brincando normalmente por não se darem conta, por exemplo, de uma fratura nos membros, o que acaba por agravar a lesão e terminar, muitas vezes, em uma cirurgia de amputação.

Sentir dor é ruim, mas não sentir dor é horrível.

Eu tenho observado como a felicidade é um produto altamente rentável. Vende-se felicidade a todo custo e com todas as facilidades comerciais possíveis. Mas, a forma mais dramática deste comércio se resume na frase:

-NÃO SOFRA MAIS!!!

E no meio eclesiástico esta tem sido uma “ferramenta” altamente utilizada. Promessas de felicidade a todo custo. Promete-se até o que Deus nunca prometeu. Mas, e a dor, onde fica?

Acostumados às promessas do “venha que Jesus resolverá todos os teus problemas”, muitos cristãos deixam o evangelho ao menor sinal de tristeza, perseguição ou dor. Para estes, o evangelho aceitável é aquele que faz do homem miserável e solitário um milionário com uma família feliz e saudável.
Sinto muito, mas a dor também faz parte do evangelho. O evangelho foi construído, escrito, vivido e estabelecido sob muitas dores.

Dor de Deus ao ver sua criação perfeita se vender ao pecado por um prazer transitório e que nem de longe se compararia com as coisas que Ele tinha preparado.

Dor do homem ao cair em si e perceber a besteira que fez ao trocar uma vida santa na presença de Deus, por uma promessa maliciosa de poder. Dor não só por ser expulso do lugar perfeito, mas da presença daquele que é perfeito.

Dor daqueles que lutam há séculos para tentar fazer os homens voltarem atrás, se arrependeram e buscarem outra vez a presença de Deus, mas, em troca, recebem prisões, maldições, exilamentos, desprezo, perseguições, humilhações, torturas e morte. Como está escrito:

“Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro”. 
Rm 8.36

E ainda:

“E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos a fio de espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados (homens dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, pelas covas e cavernas da terra”. 
Hb 11.36-38

Ainda poderia citar Mt. 10.23; Lc 11.49 e 21.12; Jo 15.20; ICo 4.12; IICo 4.7-10.

Dor daqueles que hoje assistem pasmados a corrupção e a luta pelo poder no alto clero evangélico. Nas disputas que vão parar na tv, nas rádios e na internet.

Não queremos sentir dor. Não gostamos de sentir dor. E se nós não nos sentimos encorajados a pesquisar a causa da nossa dor antes de trata-la, que dirá sentir a dor dos outros! Compartilhar alegria é bom e fácil, mas, deixar de estar na casa do riso para estar na casa do pranto e do luto, é extremamente desagradável e poucos são os que se dispõem a tal. Apesar do conselho do sábio:

“Melhor ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque ali se vê o fim de todos os homens; e os vivos o aplicam em seu coração. Melhor é a tristeza do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”.
 Ec 7.2-3

Compartilhar a dor pode ser a forma mais eficaz de tratar nossos desvios e defeitos. Mas, quando tapamos os ouvidos à voz da dor (seja nossa, seja do outro), estamos caminhando a passos largos para uma amputação ou morte.

Depois de muitas dores, humilhações e acusações, Jó pode dizer:

“Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te veem meus olhos”. 
 Jó 42.5

A dor não é um fim em si mesma, ela é um agente de comunicação que sempre traz alguma mensagem de problemas que devem ser observados. Menosprezar sua voz não é bom. O problema é real, e se não houver quem avise, ou se o aviso não for levado em conta, o problema permanece, e agora livre para agir sem qualquer resistência.

Quando o SENHOR permitir que passe por dores, ouça sua voz, atente para a lição. Seja dor física ou emocional, ela tem um recado que precisa ser ouvido. Ouvir é um dos mandamentos mais importantes e repetidos em toda a Bíblia. Ouvir a dor pode ser a diferença entre a restauração e a morte prematura.
Ouça a voz de Deus, mesmo que venha entre dores.

Mesmo em dores que levem à morte,
Ser constante, não voltes atrás,
Tua herança, tua eterna sorte,
É Jesus, o Fiel, o Veraz.
(Trecho da 3ª estrofe do hino 26, na Harpa Cristã)