quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Perigo da Passividade da Igreja Diante da Sociedade.

Igreja quase invisível

Presenciamos atualmente o alto índice de evangélicos emergindo na sociedade brasileira; igrejas de todo tipo e sabor têm desfilado nas cidades e estados da nossa nação. Temos sido testemunhas do crescimento desacelerado do movimento neo-pentecostal e de muitas igrejas emergentes, o que tem sido motivo de um sentimento ufanista por parte de alguns pastores, teólogos e demais cristãos de que, em alguns anos, o Brasil possuirá a maioria de sua população arrolada nas fileiras evangélicas.

No entanto, paralelamente a esse notório “crescimento” do evangelicalismo tupiniquim, observa-se o aumento da criminalidade, da corrupção, da dependência química, especialmente das drogas, da prostituição, os brasileiros tem sido telespectadores do colapso moral e ético em que o Brasil tem sido vítima; os vários meios de comunicação não param de informar a enxurrada de anomalias que a sociedade brasileira tem vivido.

Diante dessa triste realidade uma pergunta se faz notória: se a igreja evangélica está de fato crescendo por que a sociedade não tem sido “pintada” pelas cores do evangelho da graça? Esse paradoxo tem mobilizado muitas pessoas, inclusive pastores e teólogos, a uma reflexão séria desse momento complexo que a igreja evangélica brasileira encontra-se.

Nas páginas do Novo Testamento, especialmente no livro canônico de Atos 19.8-20, verifica-se uma correlação estreita entre a situação social da cidade romana de Éfeso e a situação social atual, a passividade da religião judaica de Éfeso e a passividade da maioria das igrejas evangélicas brasileiras. Por isso, entendo que uma análise do texto acima citado se faz necessário para identificarmos os problemas e as possíveis soluções para a realização de uma transformação da nossa sociedade.

Durante sua terceira viagem missionária Paulo, juntamente com os seus companheiros missionários, resolve aportar no centro religioso de Éfeso. Lucas tem o cuidado de nos informar que aquela cidade possuía uma sinagoga judaica, local onde os judeus se reuniam para cultuarem a Deus e praticarem toda a sua devoção religiosa. Todavia, o historiador sagrado tem a perspicácia de observar que naquela cidade havia muitos enfermos, pessoas endemoninhadas e possessas; Lucas insinua de que aquela sociedade estava submersa em uma vida promiscua, licenciosa e devassa, sem nenhum tipo de escrúpulos, moral e ético. Éfeso era conhecida pelas suas práticas religiosas sincréticas, o elevado número de adeptos ao ocultismo, paganismo e feitiçaria.

E no meio desse caos social, moral e religioso estava uma sinagoga de judeus, com toda a sua liturgia impecável, suas fórmulas de higiene e de dieta intoleráveis e sua teologia legalista, atitudes que mais repulsavam as pessoas do que as atraíam para os braços de Deus, programas que colocavam verdadeiras muralhas diante de uma população gentílica sedenta de Deus. Uma sinagoga que estava passiva diante desse decadente momento social e religioso, uma sinagoga que não influenciava as pessoas que estavam à sua volta, não promovia transformação, nem muito menos restauração espiritual.

No entanto o texto sagrado nos confere as seguintes palavras “E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários,” (11). O narrador sacro serve-se do termo tychousas (extraordinário), que também pode significar “singular”, “especial” e “notável”, para adjetivar o substantivo “milagres”. Segundo o comentarista John Stott “Ele [Lucas] não os considera típicos, normais, nem mesmo para milagres”. (2008, p. 344).

O apóstolo Paulo não se limitava a expor as Escrituras a alguns judeus e gentios piedosos na sinagoga, nos seus primeiros três meses, e depois, por espaço de dois anos, na escola de Tirano, aos primeiros convertidos daquela cidade, os seus olhos estavam sensíveis à realidade espiritual caótica em que se encontravam uma multidão de pessoas em Éfeso. Deus se faz de Paulo como um instrumento para realizar milagres de cura e exorcismos; havia tanta gente nesta situação, que o apóstolo não estava dando conta da grande demanda de pessoas carentes de restauração e libertação, fato que levou algumas pessoas a solicitarem os aventais ou lenços, de uso pessoal do missionário, para levarem aos enfermos e endemoninhados e os mesmos eram curados e os demônios retiravam-se, não por algo inerente ao lenço ou alguma virtude no apóstolo dos gentios, mas pelo poder de Deus.

Lucas relata que, não havia apenas milagres, curas e exorcismos, ministérios tão propagados e incentivados como fim em si mesmo nos centros neopentecostais, mas havia transformação de vidas, regeneração, mudança de caráter, realidades “fora de moda” em muitos círculos evangélicos. O texto expressa: “Muitos dos que creram vieram confessando e denunciando publicamente as suas próprias obras. Também muitos dos que haviam praticado artes mágicas, reunindo os seus livros, os queimaram diante de todos. Calculados os seus preços, achou-se que montavam a cinquinta mil denários. Assim, a palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente” (18-20). As pessoas estavam sendo transformadas, conversões genuínas estavam ocorrendo naquela cidade, por intermédio de Paulo. John Stott terce o seguinte comentário em relação a esse texto: “O fato de os recém-convertidos estarem dispostos a jogar seus livros no fogo, em vez de converter o seu valor em dinheiro, vendendo-os, era uma evidência notável da sinceridade de suas conversões.”

Aquela sociedade estava sendo moldada pelo evangelho da graça, e não o evangelho sendo moldado pela sociedade. A igreja evangélica brasileira precisa ser alvo de uma visitação avivalística da parte de Deus, um avivamento que venha colocar em xeque esse “evangelho” barato que tem sido ofertado nos púlpitos de muitas igrejas, um avivamento que produza renovação e não inovação, que frutifique regeneração e conversões em massa ao nosso Senhor Jesus Cristo; uma visitação divina, como bem profetizou Isaías:

“Porque derramarei água sobre o sedento e torrentes, sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade e a minha benção, sobre os teus descendentes; e brotarão como erva, como salgueiros junto às correntes das águas.” (44.3,4).

A nossa oração é que, como chuva serôdia, a graça divina caia sobre a sua igreja, expurgando todo pensamento e atitudes espúrias, egoísticas; retirando o homem do centro e cedendo lugar à presença majestosa do Espírito Santo para que possamos ver de fato o nosso país colorido pelas cores do evangelho da graça de Deus. Que Deus nos abençoe.

Por Daniel Novais

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Descanso de um Guerreiro

A Bíblia conta a história de um homem que escreveu para sempre seu nome na história da salvação. Na história da revelação de Deus aos homens. Seu nome; Calebe.

Convocado por Moisés, aos 40 anos de idade para ir à Canaã e trazer um relatório do que os homens encontrariam ali na guerra, se juntou a Josué e a outros 10 homens representantes das tribos de Israel. Ao retornarem, só ele e Josué acreditam na possibilidade de o pequeno e ainda inexperiente exército de Israel vencer os famosos guerreiros Anaquitas. Por isso, a ele é prometido uma parte na herança da nova terra e o privilégio de ser , juntamente com Josué, os único acima dos vinte anos daquela geração que entrariam na terra prometida.

Mas, o que mais chama a atenção na história de Calebe, está no fato relatado no livro de Josué 14. Aqui é registrada uma cobrança deste a Josué concernente à promessa que Moisés havia feito de lhe dar Hebrom por herança. Josué, então, reconhecendo que era legítima a cobrança, cede a Calebe Hebrom, então conhecida por Quiriate-Arba.

O livro de Juízes se inicia com a narrativa da conquista de da terra de Hebrom por Calebe. Sua herança não veio de mão beijada, antes, lhe custou muita luta e isso quando já passava dos oitenta anos. Como ele mesmo disse a Josué:
“E, ainda hoje, estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair, e para entrar”. Js. 14.11


Ao longo dos anos, as guerras foram mudando e , no que diz respeito a nós cristãos, esta mudou completamente na forma e no propósito.

Já não lutamos por território, mas para chegar à nossa pátria, que está nos céus (Fp. 3.20). Nossos inimigos não são homens de guerra, mas espíritos caídos que lutam para nos desanimar e nos vencer:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Ef. 6.11,12.

Ontem, por volta das 13:00h, descansou um dos maiores guerreiros que a Assembléia de Deus em Jequié viu em sua curta história de 65 anos. Presbítero João Joaquim Souza.

Quem como eu, o conheceu ainda dirigindo cultos, pregando a palavra, incentivando os irmãos, com toda a certeza jamais o esquecerá. Jamais esquecerá dos alongados Aleluias, que soavam em seus lábios quase como um canto de sua alma em adoração ao seu Senhor, a quem conheceu e amou fielmente até o fim.

Desde ontem uma pergunta me inquieta, me transtorna, derruba minhas certezas.

O que faz de uma pessoa um personagem inesquecível?

Ou ainda:

Será que serei lembrado depois de minha morte? Pelo que? Que contribuições tenho oferecido à minha família, meus amigos, minha igreja?

João Joaquim não era pregador eloqüente. Não tinha voz melodiosa que fizesse os ouvintes anelarem por estarem com ele outra vez. Não era teólogo renomado.

Vindo de uma família simples, trabalhou por muito tempo de sua vida no labor da roça. Mais tarde, trocaria o campo de verduras e feijão, pelos campos de almas.

Mas, o que nos atraia tanto a este irmão de fala pausada e voz mansa e baixa?

Certamente, o amor por Jesus que transbordava em cada uma de suas palavras. A sabedoria simples, desprovida de adereços e ajustes humanos. Apenas, pura e simples sabedoria do alto.

Conversar com o irmão João, era como estar conversando cara a cara com o outro João, aquele lá de Éfeso, que dizia aos irmãos, “filhinhos, amai-vos uns aos outros”.

Devo muito de minha fé a este pequeno grande homem. Mais do que suas palavras, seus gestos e sua vida montaram o discurso mais eloqüente e persuasivo que já ouvi. Seu carisma não fingido. Sua energia em exortar. Sua insistência em alertar a igreja da urgência do retorno do mestre e do preparo para este encontro. Seus passos insistentes indo e voltando da igreja até quando não o pode mais. Até quando seu corpo não desfrutava mais da energia de seu espírito.

Espero que no dia em que partir para estar com o Mestre, na história da fé humana, da busca dos homens pela santidade, da luta dos fiéis em fazer o seu Senhor conhecido, seja lembrado não pela mídia ou pelos círculos dos famosos, mas, a exemplo de João Joaquim, meu legado seja escrito com minha própria vida.
Uma coisa interessante na história de Calebe, é que a Bíblia não registra sua morte.

Isso me faz pensar que depois de narrar tais feitos de um homem octogenário, que foi fiel em tudo e por toda a vida, o escritor não viu tanta importância em narrar sua morte, pois o mais belo desta história é sua vida.

Na trajetória de João Joaquim não quero registrar sua morte e suas causas, afinal, na minha ótica, este intervalo entre sua vida de dedicação e amor ao Mestre e aos seus, e o grande dia de sua ressurreição para estar eternamente com o seu amado Senhor, é insignificante demais para fazer parte de sua história.

Assim como Calebe, a história de João Joaquim não chegou ao fim, está apenas no intervalo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Nasce uma nova emissora de TV evangélica!

Amados, a Paz do Senhor.

Quero lhe convidar a ser parte em um ousado projeto em nosso estado (Bahia). Com uma proposta diferenciada, vem promover uma programação de qualidade tanto educativa quanto formativa de caráter e princípios. Seu perfil, em nada se parecerá com as já firmadas emissoras de nosso país.

Leia a matéria inteira em no site Sudoeste Gospel ou no Exteremo Sul Gospel. Ore por essa parceria e nos ajude a divulgar esta boa nova.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010


Olá meus queridos amigos e irmãos, a Paz do Senhor.
Após algum tempo estou encerrando esta pequena série de estudos sobre os Princípios da Vida Cristã. Foi extremamente gratificante e edificante para minha vida, espero que tenha sido, no mínimo, motivadora para sua. Durante estes estudos, meu desejo foi despertar algumas pessoas para uma essência que parece dia-a-dia estar se perdendo – a da Vida cristã.

Me parece que os evangelhos televisivos, com raras exceções, distorcem quase que completamente a mensagem da cruz. Vejo e ouço um monte de coisas e preciso fazer um trabalho quase que de perito criminal, para achar vestígios de evangelho em meio a essa enxurrada de mensagens enlatadas sobre vitória financeira, milagres (que, acho, deveria até mudar de nome, já que todos os milagre notoriamente tinham objetivo de glorificar a Deus ou demonstrar sua autoridade diante da apostasia humana, e não de provar que uma denominação é mais poderosa que outra), distribuição de curas, auto-ajuda, e por aí vai.

É evidente que não basta escrever e falar. Há de se tomar atitudes sólidas contra essa maré de pregadores/empresários, que olham para a igreja não como um aprisco, mas como um nicho de possibilidades comerciais. Isso afeta diretamente aquilo que vejo como a razão de ser da igreja, e que, trato agora como a última e mais importante característica de uma vida cristã: O Princípio da Missão.

Pense bem, se você não tem objetivos, não tem um alvo, uma meta, está fadado a trabalhar e viver sem perspectivas, e isso, no fim, te levará a uma sensação de inutilidade ou incompletude. Todo ser humano quer parar um dia e olhar para traz e lá enxergar um rastro de contribuições suas para a mudança em alguém ou alguma coisa. Quer ter um papel na novela da vida. Quer ter alguma coisa para contar a seus netos, e deixá-las como legado a uma nova geração.

A igreja tem um legado. Tem uma missão. Tem uma razão de ser e estar aqui.

O problema começa quando este foco é perdido. Quando a visão sai do alvo e se confunde com as distrações periféricas. Para ilustrar o que estou tentando dizer, vou usar uma imagem de ilusionismo produzida por computador. Observe a imagem.










Ela está se mexendo? Parece uma onda viva? Uma bandeira tremulando?

Na verdade, é uma imagem sólida, sem qualquer efeito digital. O que acontece é que o cérebro se confunde devido à utilização de cores, formas e sombras, fazendo-o interpretar os intervalos entre os quadrados como sendo movimentos. Mas, isso só acontece quando os olhos percorrem freneticamente sobre o quadro na tentativa de interpretar a imagem.

Nós não podemos ficar o tempo todo olhando as milhares de mudanças ao nosso redor, tentando adaptá-las à nossa pregação. Não podemos viver o evangelho em função das “descobertas científicas”, tentando encaixá-las em nossa fé e atribuindo-lhes uma carga de certeza que os próprios cientistas não têm. Isso culminou na teologia liberal nos séculos XVIII e XIX.

Também não podemos fazer do homem a medida de todas as coisas. Colocar a necessidade humana como prioridade máxima do evangelho em detrimento da soberania divina, alimentando a idéia de que aquilo que não “satisfaz” o homem não pode ser bom ou está mal interpretado. Foi assim que começou a Teologia da Libertação e agora, a deturpação total do evangelho com a Teologia da Prosperidade nas Igrejas Neo-pentecostais.

Agora, faça um teste. Volte lá à imagem, e foque um quadradinho, qualquer um. Concentre-se nele, sem mover seus olhos. Você vai perceber que a imagem vai diminuir o movimento, e, a depender de seu nível de concentração, irá parar.

O foco modifica a interpretação das coisas que estão diante de nós.
Vou recorrer a uma figura de linguagem do Apóstolo Paulo para explicar o fato de que o foco faz toda a diferença na vida de quem deseja viver de forma cristocentrica.
Em sua carta aos Filipenses, Paulo diz:

Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. Fp. 3.13,14.

Paulo escreve a carta aos Filipenses e demonstra muita gratidão a estes pelo apoio que tem dado a seu ministério. Neste trecho em especial, ele vai falar sobre a alegria da vida cristã apesar das lutas e dos obstáculos ao crescimento do Reino de Deus.

Diante destes obstáculos, ele vai usar a metáfora do atleta. Sei que ele não menciona diretamente aqui qualquer palavra que pudesse fazer esta ligação, mas está intrínseco na aplicação da palavra alvo, que aqui não é um objeto a ser atingido com um dardo ou flecha, mas um ponto a ser alcançado. Um lugar no horizonte distante que é o objetivo do corredor. A linha de chegada.


Em 1984, na cidade americana de Los Angeles, Califórnia, foram realizados os Jogos Olímpicos. Tudo transcorria normalmente e nós, brasileiros, assistíamos a mais uma olimpíada em que o Brasil era só coadjuvante. Tudo parecia normal até o dia da maratona feminina.

Já muitas horas depois da primeira colocada chegar e receber sua premiação, entra no estádio uma figura cambaleante, desfigurada, incapaz de dar dois passos em uma mesma direção. Seu nome: Gabrielle Anderson.
Ela entrou para a história não por ser a grande vencedora. Muito menos por destruir recordes até então imbatíveis. Seu nome não entrou sequer entre as melhores colocadas.

Então, porque essa mulher é considerada até hoje uma heroína dos jogos olímpicos?

Porque, contra todas as possibilidades e expectativas, ela terminou uma prova em estado de debilitação absurda. Gabrielle estava desnutrida, sentia câimbras dilacerantes, seu corpo já havia queimado todas as reservas de energia e começava a consumir as energias dos músculos, produzindo uma sensação terrível de desmaio. O calor aumentava a temperatura corporal ainda mais, o que acelerou bruscamente sua desidratação. Então, diante de todos estes avisos para parar, porque Gabrielle não o fez? Porque continuou? O que ela iria ganhar com tanto esforço?

A glória!

Sim a glória humana. Ela mesma depois deu uma entrevista em que disse que queria honrar sua inscrição na maratona e também aproveitar sua última oportunidade, visto que já estava na idade limite para uma maratonista.

E nós? O que nos faz seguir adiante?
Paulo diz que ele “corre” (ICo.9.24-26) para receber um prêmio incorruptível:

“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar”.

Então nós temos um alvo... E temos uma missão.
Quando um empresário olha para um garoto forte e vê que ele é, além de forte, ágil e valente, imediatamente investe nele como lutador profissional. Ele prepara o garoto e o coloca no ringue com um propósito: Ganhar lutas e dinheiro.

Quando Deus separou a igreja, Ele o fez escolhendo homens e mulheres com talentos vários e os deu outros necessários por intermédio de seu Espírito com um propósito: Ganhar almas e influenciar o mundo.
Talvez nosso problema esteja na segunda parte da missão.

Somos muito bons em “ganhar” almas. Fazemos cultos com estruturas de mega-show. Distribuímos folhetos nas ruas e convidamos amigos e vizinhos para os cultos regulares ou festivos de nossas igrejas (ou pelo menos era assim). Mas, quando se trata de influenciar o mundo, hum! A coisa muda de figura.
Irmãos, não sou, não quero ser e nem posso ser juiz do mundo ou dos outros. Quando falo, olho para o espelho.

É uma raridade ver uma igreja ser mencionada como exemplo de socorro aos menos favorecidos. Os melhores projetos sociais no Brasil, quando tem participação cristã, não é de iniciativa destes.

Nós estamos no afã de ganhar as almas, mas, como Docetistas sociais, esperamos apenas que a alma do pobre miserável seja salva, não importando o que o estômago dele está dizendo. E não foi contra isso que Tiago escreveu em sua epístola?

“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano,  e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras.” Tg. 2.14-18

A missão da igreja vai além de pregar o evangelho. Na verdade, a missão da igreja é viver o evangelho, e isso, diante dos olhos de um mundo corrompido e perverso.

Penso que nossa missão se ramifica em três áreas: Missão Cultural, Moral e Espiritual.

Lembro da narrativa do Mis. Don Richardson, quando chegou a Papua-Nova-Guiné há décadas atrás e encontrou ali tribos em que se tinha como costume conquistar o outro, torná-lo o mais íntimo amigo, e quando isso acontecesse, então matava-se o amigo conquistado envenenado. Isso era tão forte em termos culturais, que era contado nas reuniões tribais e passados de geração para geração a fim de não se deixar o costume acabar.


As “manifestações culturais” podem muitas vezes servir apenas de maquiagem para uma depravação absoluta do gênero humano. E, embora existam fundações e ONG’s que defendem certos costumes como sendo marcas culturais de alguns povos, fica claro que no fundo, não passa de pecado e transgressão contra toda ordem de harmonia humana, e contra toda ordenação divina. Ou seria possível dizer que deve ser preservado o costume de tribos indígenas, como a dos Suruuarras, que obriga os pais a matarem seus filhos que porventura tenham nascido com defeitos físicos ou deficiências mentais ou físicas. Como no caso relatado pela revista Veja, de uma indiazinha salva por missionários depois de sofrer várias tentativas de homicídio simplesmente porquê não tinha o mesmo ritmo de desenvolvimento das outras crianças da tribo. Demorou a falar e andar, por isso, aos dois anos de idade, foi condenada à morte pela tribo, e deveria ser executada pelos próprios pais.
Quando questionados sobre a omissão neste caso, os antropólogos da FUNAI não responderam, mas, segundo Veja: “Extra-oficialmente, seus antropólogos apelam para o argumento absurdo da preservação da cultura indígena.”

A igreja tem a missão sim de remir a cultura. Precisamos pregar a salvação dos homens, mas também precisamos lutar pela restauração da cultura Cristã, onde uns homens não tem mais direitos que outros, tampouco, sobre aqueles que tem menos força.

Paulo diz em Filipenses 2.15:

“Para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”.

Somos chamados, não para cobrir o rosto e esconder a transformação feita pela presença de Deus, antes, Paulo nos incentiva a tirar o véu e revelar a Glória da presença de Deus.

Em segundo lugar, a igreja tem uma missão moral.

Falar de moralidade se tornou tão raro que aqueles que usam este termo só o fazem aplicando-o a questões éticas e políticas. Embora, com a implantação do ensino da Filosofia nas escolas, tem-se tornado comum estas discussões nos meios sociais, principalmente entre os mais jovens.

As antigas falas de “deixem que cada um decida o que é melhor para si mesmo”, “cada pessoa tem o direito de fazer o que quiser”, “abaixo os aparelhos de controle dos poderosos (e aqui era incluída a igreja)”, se mostrou tão hipócrita, inútil e maléfico, que agora os “especialistas” querem negar seus antigos discursos e apontar para uma solução no resgate dos valores religiosos e familiares.

Qual era o estilo de vida difundido e massificado pela mídia e pela elite cultural nas décadas passadas? Não é difícil saber. Assista a qualquer filme de Hollywood rodado depois dos anos 40 e verá estampada ali: adultério, prostituição, vício, violência, assassinatos, roubos, desestruturação familiar, e por aí vai. As maiores estrelas do cinema mundial ganharam fama e fortuna ajudando a disseminar um estilo de vida destrutivo e corrupto embalado em papel de presente e com um selo dizendo: consuma que é bom. Ou alguém teria a coragem de dizer que os filmes de bang-bang não hostilizavam os índios americanos, e os desenhos pintavam os negros africanos como imbecis feios e esquisitos? Ou que os primeiros desenhos da Disney não mostravam os povos sul americanos como gente tribal e ignorante, vivendo no meio do mato e necessitando do “socorro” americano para se libertarem da ignorância?

O homem é um ser moral.
Segundo um artigo contido no UOL: “Como ser moral, o homem é atraído pelo bem, pela justiça, pela verdade, pela honestidade, etc. e é compelido a repelir, a falsidade e a desonestidade”.

Sendo assim, entendo que, bem, justiça, verdade e honestidade, são atributos que só podem existir ou ser comparados se há um padrão para tal. Não é possível comparar um objeto se não há outro que sirva de modelo. Não é possível saber se o que estou fazendo é errado, se todas as pessoas ao meu redor fazem exatamente o que eu faço e não há nada dizendo que aquilo é errado.

Deus estabelece padrões morais tanto na Lei passada a seu povo e escrita mais tarde, como a interioriza no homem como marca registrada de sua autoria na criação. Todo homem tem senso moral. Este senso é deturpado ou, conscientemente ignorado por aqueles que transgridem contra toda ordem.


Alguns vão acusar os cristãos de serem falsos moralistas, pois pregam contra coisas que eles mesmos fazem, se referindo aos casos de corrupção envolvendo “bispos” acusados de lavagem de dinheiro. Mas, isso não quer dizer nada. Existe uma Constituição Federal no Brasil que regula toda a lei no país, e o fato de existirem políticos corruptos, juízes comprados, advogados criminosos, não anula a eficácia da lei, antes a confirma, pois mesmo aqueles que a julgam, estão debaixo de seu poder punitivo.

A igreja tem a missão de mostrar ao mundo, de forma prática, que Deus estabeleceu regras de convívio social para uma vida feliz e plena entre os homens onde o centro orientador de tudo é seu amor e sua graça que alcança a todo aquele que se chegar a Ele.

Jesus mostrou claramente ao mundo a magnitude do padrão de divino de ética e moralidade:

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno.
Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela.
Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno.
Também foi dito: Qualquer que deixar sua mulher, que lhe dê carta de desquite. Eu, porém, vos digo que qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de prostituição, faz que ela cometa adultério; e qualquer que casar com a repudiada comete adultério.
Outrossim, ouvistes que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás teus juramentos ao Senhor. Eu, porém, vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o trono de Deus, nem pela terra, porque é o escabelo de seus pés, nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei, nem jurarás pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto.
Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna.
Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo e tirar-te a vestimenta, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem, para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo? E, se saudardes unicamente os vossos irmãos, que fazeis de mais? Não fazem os publicanos também assim? (Mt. 21-47)

Se a moral está no campo da intencionalidade das atitudes humanas em relação ao outro, não conheço maior lei que esta.

Por último e não menos importante, está a missão espiritual da igreja. Esta consiste na tarefa de levar a todos os homens, independente de situação social ou étnica, a mensagem que todos pecaram, foram por isso condenados a perdição eterna, mas que, gratuitamente são perdoados em Cristo Jesus, dependendo de uma atitude de arrependimento e retorno aos padrões de vida estabelecidos pelo Pai.

Se já houve um tempo em que a necessidade de restauração foi grande, duvido que tenha sido maior que este nosso.


Missão Asas de Socorro
A depravação humana chegou a escalas tão grades, que já não é possível classificar como “humanas” atitudes de altruísmo e misericórdia. Ser gentil, pacífico, fiel, honesto, são qualidades em extinção. E o pior, os veículos de comunicação estão a cada dia ajudando na destruição final de qualquer sementinha de “imagem de Deus” que ainda pudesse estar resistindo nos homens.

Não há reforma social sem reforma espiritual!

Essa conversa comunista de igualdade entre os homens excluindo a religião por esta ser o “ópio do povo” não passa de fachada para os modelos de governo totalitários como o foram os antigos soviéticos e italianos, e os ainda sobreviventes Norte coreano, chinês, cubano, laoense e vietnamita.
Toda reforma social que não passa pelos padrões bíblicos acabam em submissão a homens cheios de si e embriagados pela ânsia de poder.

A igreja se calou muitas vezes em meio às maiores convulsões políticas mundiais, isso é verdade, mas, em compensação, quando se envolveu demonstrou que a verdadeira mudança não acontece a partir do homem, e sim, a partir de Deus quando este interfere na história a pedido daqueles que o amam e o servem com fidelidade.

Não é tempo de a igreja assistir ao espetáculo de terror promovido pelas drogas, prostituição, corrupção... Como Amós, é o tempo de denunciarmos a depravação humana e anunciarmos a justa recompensa que os ímpios receberão por sua maldade e desinteresse pelos desamparados.

Se você é cristão, tem uma missão.
Se você tem uma missão, e o tempo de cumpri-la.
Se você deseja fazê-lo, saiba que não haverá falta de apoio:

Portanto, ide, ensinai {ou fazei discípulos} todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém! (Mt. 28.19,20)

 Deus os abençoe e espero, sinceramente, que haja entre nós um novo movimento de avivamento genuíno, ao exemplo de outros como foram os liderados por John Wesley, Spurggeon, Moody, Jonatas Eduards. Onde as transformações não eram de momento e os resultados da transformação social se mostravam claramente na vida comunitária das cidades onde estes passavam.
Não há avivamento sem o cumprimento integral da missão cristã: priorizar a pregação da genuína palavra de Deus sem desprezar as necessidades humanas daqueles que são alcançados.

Um abraço a todos, e até a próxima.