quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O Descanso de um Guerreiro

A Bíblia conta a história de um homem que escreveu para sempre seu nome na história da salvação. Na história da revelação de Deus aos homens. Seu nome; Calebe.

Convocado por Moisés, aos 40 anos de idade para ir à Canaã e trazer um relatório do que os homens encontrariam ali na guerra, se juntou a Josué e a outros 10 homens representantes das tribos de Israel. Ao retornarem, só ele e Josué acreditam na possibilidade de o pequeno e ainda inexperiente exército de Israel vencer os famosos guerreiros Anaquitas. Por isso, a ele é prometido uma parte na herança da nova terra e o privilégio de ser , juntamente com Josué, os único acima dos vinte anos daquela geração que entrariam na terra prometida.

Mas, o que mais chama a atenção na história de Calebe, está no fato relatado no livro de Josué 14. Aqui é registrada uma cobrança deste a Josué concernente à promessa que Moisés havia feito de lhe dar Hebrom por herança. Josué, então, reconhecendo que era legítima a cobrança, cede a Calebe Hebrom, então conhecida por Quiriate-Arba.

O livro de Juízes se inicia com a narrativa da conquista de da terra de Hebrom por Calebe. Sua herança não veio de mão beijada, antes, lhe custou muita luta e isso quando já passava dos oitenta anos. Como ele mesmo disse a Josué:
“E, ainda hoje, estou tão forte como no dia em que Moisés me enviou; qual a minha força então era, tal é agora a minha força, para a guerra, e para sair, e para entrar”. Js. 14.11


Ao longo dos anos, as guerras foram mudando e , no que diz respeito a nós cristãos, esta mudou completamente na forma e no propósito.

Já não lutamos por território, mas para chegar à nossa pátria, que está nos céus (Fp. 3.20). Nossos inimigos não são homens de guerra, mas espíritos caídos que lutam para nos desanimar e nos vencer:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.” Ef. 6.11,12.

Ontem, por volta das 13:00h, descansou um dos maiores guerreiros que a Assembléia de Deus em Jequié viu em sua curta história de 65 anos. Presbítero João Joaquim Souza.

Quem como eu, o conheceu ainda dirigindo cultos, pregando a palavra, incentivando os irmãos, com toda a certeza jamais o esquecerá. Jamais esquecerá dos alongados Aleluias, que soavam em seus lábios quase como um canto de sua alma em adoração ao seu Senhor, a quem conheceu e amou fielmente até o fim.

Desde ontem uma pergunta me inquieta, me transtorna, derruba minhas certezas.

O que faz de uma pessoa um personagem inesquecível?

Ou ainda:

Será que serei lembrado depois de minha morte? Pelo que? Que contribuições tenho oferecido à minha família, meus amigos, minha igreja?

João Joaquim não era pregador eloqüente. Não tinha voz melodiosa que fizesse os ouvintes anelarem por estarem com ele outra vez. Não era teólogo renomado.

Vindo de uma família simples, trabalhou por muito tempo de sua vida no labor da roça. Mais tarde, trocaria o campo de verduras e feijão, pelos campos de almas.

Mas, o que nos atraia tanto a este irmão de fala pausada e voz mansa e baixa?

Certamente, o amor por Jesus que transbordava em cada uma de suas palavras. A sabedoria simples, desprovida de adereços e ajustes humanos. Apenas, pura e simples sabedoria do alto.

Conversar com o irmão João, era como estar conversando cara a cara com o outro João, aquele lá de Éfeso, que dizia aos irmãos, “filhinhos, amai-vos uns aos outros”.

Devo muito de minha fé a este pequeno grande homem. Mais do que suas palavras, seus gestos e sua vida montaram o discurso mais eloqüente e persuasivo que já ouvi. Seu carisma não fingido. Sua energia em exortar. Sua insistência em alertar a igreja da urgência do retorno do mestre e do preparo para este encontro. Seus passos insistentes indo e voltando da igreja até quando não o pode mais. Até quando seu corpo não desfrutava mais da energia de seu espírito.

Espero que no dia em que partir para estar com o Mestre, na história da fé humana, da busca dos homens pela santidade, da luta dos fiéis em fazer o seu Senhor conhecido, seja lembrado não pela mídia ou pelos círculos dos famosos, mas, a exemplo de João Joaquim, meu legado seja escrito com minha própria vida.
Uma coisa interessante na história de Calebe, é que a Bíblia não registra sua morte.

Isso me faz pensar que depois de narrar tais feitos de um homem octogenário, que foi fiel em tudo e por toda a vida, o escritor não viu tanta importância em narrar sua morte, pois o mais belo desta história é sua vida.

Na trajetória de João Joaquim não quero registrar sua morte e suas causas, afinal, na minha ótica, este intervalo entre sua vida de dedicação e amor ao Mestre e aos seus, e o grande dia de sua ressurreição para estar eternamente com o seu amado Senhor, é insignificante demais para fazer parte de sua história.

Assim como Calebe, a história de João Joaquim não chegou ao fim, está apenas no intervalo.

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