sábado, 19 de novembro de 2011

OUTRO DÍZIMO - continuação 1

Temer.

Estou há dois dias parado neste tema, porque temi escrever sobre ele. Desde criança eu ouço duas versões sobre o temor de Deus: uma diz que devemos temer a Deus porque ele é um juiz severo e conhece aqueles que se dizem bons e não são. Diante dele vale o que está escrito – sem misericórdia. Um exemplo disto é o desfecho da história do Alto da Compadecida, em que Maria aparece como única capaz de se compadecer (daí o nome) do pecador, pois Jesus, o justo juiz, está pronto para atender as acusações do Diabo e condenar a todos.

A outra, ganhou força há alguns anos, depois das tragédias do atentado ao Word Trade Center e à Tsunamy que varreu a costa da indonésia e atingiu outros países no pacífico. Trata-se da Teologia Relacional. Essa “nova” interpretação da relação de Deus com os homens não passa de uma repaginada no velho conhecido Teísmo Aberto. Aquele tem como maior promotor no Brasil o pastor da Igreja Assembleia de Deus Betesda, Ricardo Gondim, enquanto que este último tinha como maior expoente da idéia o Dr. Clark Pinnock (1),   falecido em 14/08/2010.

O Teísmo Aberto, ou a Teologia Relacional tentam adaptar os anseios humanos à revelação de Deus. Deus, neste pensamento, não é onipotente ou onisciente, se surpreende com o futuro, pois este ainda não está determinado, visto que está em construção numa parceria entre Deus e os homens. Mas, no fim, os homens se tornam mais poderosos que Deus, pois Ele se aniquilou para se relacionar com estes e depende de suas decisões para agir. Em uma declaração do Pr. Ricardo Gondim como resposta às causas do Tsunami, ele diz:

Não, Ele não pôde evitar a catástrofe asiática. Assim, sinto que a morte de milhares de pessoas, machucou infinitamente mais o coração de Deus do que o meu – o sofrimento é proporcional ao amor. O pouco que conheço sobre Deus e sobre seu caráter me indica que há muitas lágrimas no céu.
Mas Deus podia e pode se fazer presente no meio da tragédia. Ele podia ter evitado muitas mortes, se déssemos ouvidos aos seus princípios e verdades e a humanidade usasse o dinheiro gasto em armas e bombas para viver num mundo mais justo. Bastava que um sistema de alarme, construído pelos homens, tivesse soado e muitas vidas teriam sido poupadas. Agora, o rosto de Deus se evidenciará nos pés e nas mãos de cada voluntário que acudir aos que choram. (2)

 Isso é loucura! Desvario. Deus, impotente ante as tragédias humanas.

Temer o Senhor depende, antes de tudo, de um prévio conhecimento do Todo Poderoso. Os homens tem se tornado cada vez mais arrogantes e presunçosos, senhores de si mesmos e, chocam-se com a ideia de se submeter a outro mais forte e poderoso. A luta aqui na terra é para ser o mais poderoso, e não para servir ao mais poderoso.

Mas, diante da tragédia, da impotência ante a morte, da falibilidade dos planos futuros, da incerteza quanto ao amanhã, se veem obrigados a considerar a ideia Deus. Então, formulam todo tipo de pensamento e modelam um ser compatível com suas mentes cauterizadas e infinitamente inferiores à mente divina.


“Pois os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Assim como os céus são mais altos que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos”. Is 55.8,9.

Creio que este seja o maior motivo de tudo o que estamos assistindo. Com suas atitudes, pessoas no mundo inteiro pensam que destronaram Deus e estão livres para pensar e agir conforme seus instintos, gerenciando o mundo como bem entendem que deve ser, sem contas a prestar. Afinal, a felicidade é a gente que faz! Ledo engano.

Não! Deus não saiu do trono. Não criou um carro inteligente, deu a partida e soltou ladeira abaixo. Ele está no controle, e esta é a base para o temor.

Jesus é categórico quando diz aos discípulos:

E digo-vos, amigos meus: não temais os que matam o corpo e depois não tem mais o que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer: temei àquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei. Lc 12.4,5.

Sim, o Soberano Absoluto tem poder sobre nossas vidas, e também sobre nossa morte e nosso futuro pós-morte. Ele é longânimo, mas já determinou o tempo dos ajustes. 

Mas, falar de temor a Deus, em uma sociedade cada vez mais libertina e desregrada é, no mínimo, um desafio. Alunos não reconhecem a autoridade dos professores, cidadãos não reconhecem as autoridades, políticos não reconhecem a autoridade do povo, filhos não reconhecem a autoridade dos pais. E tudo isso porque queremos ser livres. Nesse andamento das coisas, logo logo estaremos livres da vida.

Como disse Dostoiévski: Se Deus não existe e a alma é mortal, tudo é permitido. (O diálogo com o demônio em Irmãos Karamazov, 1879).

Provérbios 14.27:
“O temor do Senhor é uma fonte de vida para preservar dos laços da morte”.

Os princípios bíblicos não tem e nunca tiveram intuito cerceador de liberdade, antes são norteadores para a preservação de uma vida saudável e feliz. Mas tudo começa no temor ao Senhor. Entender que há um SENHOR SOBERANO no céu que rege todas as forças naturais e sobrenaturais, gera no coração dos fiéis segurança, mas, nas mentes cauterizadas e vendidas à ilusão vaidosa do poder temporal, é um empecilho à auto afirmação.

Temer o Senhor é TER MEDO SIM, mas não do Senhor e sim de se desviar de sua graça, de estar do lado errado no juízo, de ser alvo de sua justiça. Esse Deus caricaturado e despido de autoridade e de seus atributos imutáveis, não passa de uma tentativa infantil de ignorá-lo, esperando que isso se torne realidade no fim. E depois dizem que nós é que somos alienados.

Temer a Deus gera vida, pois Ele é o doador da vida e a concede em abundância aos que lhe buscam com humildade.

Temer a Deus guarda da morte, pois Ele é uma fortaleza no dia da angústia para os que o conhecem e seus mandamentos preservam a alma do temente.

Temer ao Senhor é reconhecer, confessar e vivenciar a cada dia sua soberania. O Senhor é soberano e por isso não se explica, não se arrepende, não barganha. Sua palavra é autoridade e não se pode questioná-lo.

Essa é a diferença entre os que temem e os soberbos. Àqueles, o Senhor ama, mas, a estes ele resiste.

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1 - Clark H. Pinnock (3 de fevereiro de 1937 em Toronto, Ontário, Canadá) era um teólogo cristão, apologista e autor. Foi professor emérito de Teologia Sistemática no McMaster Divinity College.
 2 - Citado em http://www.monergismo.com/textos/sofrimento/tsunami_gondim_eros.htm
* Todas as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Almeida Revista e Corrigida (1995).

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